domingo, 2 de setembro de 2018

JOSÉ EDUARDO DEGRAZIA : "A FORÇA DO POEMA..."






José Eduardo Degrazia
(Porto Alegre, RS) 



A FORÇA DO POEMA 
E/OU SUA SEM-CERIMÔNIA   


O poema 
entrou em mim 


como se 
derrubasse a porta 
de uma casa  


ou simplesmente 
enrolasse os pés 
no tapete  


e caísse 
sobre o peito 
de um homem.  


Só arestas, 
seco, ácido 
de um lado, 


duro: pedra, 
afiado: faca, 
explosivo: obus, 


não deixou 
alternativa: detoná-lo 
no branco da página.     



(Transcrito do livro "Lavra Permanente" 
- Editora Movimento, Porto Alegre, RS, 1975) 



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JOSÉ EDUARDO DEGRAZIA - Nasceu em Porto Alegre, RS, 
no ano de 1951. Tem mais de 20 livros de poesia, contos 
e novelas publicados. Livros de  poesia : Lavra Permanente 
(1975), Cidade Submersa (1979), A Porta do Sol (1982), 
O Amor Essa Palavra (1992), Um Animal Espera (2011), 
entre outros.  Participa de mais de 30 antologias nacionais 
e estrangeiras. Tem livros traduzidos para o espanhol, 
italiano, francês, inglês e esloveno.   





sábado, 7 de julho de 2018

JORGE LUÍS BORGES : "A poesia pode saltar sobre nós a qualquer instante"







Jorge Luís Borges, 
poeta, contista, tradutor, 
crítico literário e ensaísta argentino
(1899 - 1986) 



          "Passamos à poesia; passamos à vida.  E a vida, tenho certeza, é feita de poesia.  A poesia não é alheia - a poesia, como veremos, está logo ali, à espreita.  Pode saltar sobre nós a qualquer instante.  Ora, tendemos a fazer uma confusão corriqueira.  Pensamos, por exemplo, que se estudarmos Homero, ou a Divina Comédia, ou Frei Luís de León, ou Macbeth, estaremos estudando poesia. Mas os livros são somente ocasiões para a poesia.  Creio que Emerson escreveu em algum lugar que uma biblioteca é um tipo de caverna mágica cheia de mortos.  E aqueles mortos podem ser ressuscitados, podem ser trazidos de volta à vida quando se abrem as suas páginas.  Falando sobre o bispo Berkeley 
(que, permitam-me lembrar, foi um profeta da grandeza dos Estados Unidos), lembro que ele escreveu que o gosto da maçã não estava nem na própria maçã - a maçã não pode ter gosto por si mesma - nem na boca de quem come.  É preciso um contato entre elas.  O mesmo acontece com um livro ou uma coleção  deles, uma biblioteca.  Pois o que é um livro em si mesmo ? Um livro é um objeto físico num mundo de objetos físicos.  É um conjunto de símbolos mortos.  E então aparece o leitor certo, e as palavras - ou, antes, a poesia por trás das palavras, pois as próprias palavras são meros símbolos - saltam para a vida, e temos uma ressurreição da palavra." 



(Trecho de O Enigma da Poesia / 
 Reprodução do blog de Luiz Alberto Machado 
- http://blogdotataritaritata.blogspot.com.br ) 
  

quarta-feira, 13 de junho de 2018

MANUEL ALEGRE : A POESIA É UM TERRITÓRIO "DE DEFESA DA LIBERDADE DE ESCOLHA DE CADA POVO"






Manuel Alegre, poeta português, 
Prêmio Camões 2017 




          "Nesta era da globalização e de um novo bezerro de ouro, em que o poder financeiro impõe a sua hegemonia sobre a política, a democracia, a cultura e os próprios Estados, a literatura e, em especial, a poesia, podem ser ainda um território de resistência contra o pensamento único e de defesa da liberdade de escolha de cada povo."   

          Manuel Alegre lembrou que a Língua Portuguesa "anda pelos cinco continentes, língua de diferentes identidades e culturas, em que as vogais não têm todas a mesma cor.  E em que as consoantes, como se sabe, em Portugal assobiam, na África cantam e no Brasil dançam."   

          O ministro da Cultura disse que a Academia das Ciências de Lisboa indicou para a lista do Nobel de Literatura os nomes de Agustina Bessa-Luís e Manuel Alegre.    



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Transcrito do site TSF - Rádio de Notícias  (www.tsf.pt) 

          

sábado, 28 de abril de 2018

SEBASTIÃO VILA NOVA : "De poetas e de poesia"






SEBASTIÃO VILA NOVA  
(Sociólogo da Fundação Joaquim Nabuco 
e professor da UNICAP, do Recife - PE) 



          (...) Afinal, esse negócio de fazer poesia, como se entende comumente a poesia, é uma temeridade, uma loucura.  É coisa para abalar a reputação de qualquer um.  Antes de mais nada, porque fazer poesia é subverter uma das coisas mais caras ao homem, o seu instrumento básico de comunicação: a linguagem verbal.  Por isso é que a poesia, a partir do fato de que ela se baseia na subversão do sentido cotidiano das palavras, é uma atividade não só marginal, mas antissocial.  Por isso, também, é que quem se mete com esse negócio de andar fazendo e principalmente publicando poesia deve ter a consciência do estigma que a sociedade reserva a esse tipo de transgressor.   A maioria das pessoas, os homens "sérios" e práticos, os sensatos, os virtuosos de domingo costumam olhar, no mínimo com tolerância, quando não com desdém, para quem perde seu tempo com essa "coisa inútil".  Quem não sabe o que é que se quer dizer quando se afirma, em geral com algum desprezo mal disfarçado em condescendência, que "fulano é um poeta" ? 

           (...) Mas acontece que a poesia, toda poesia, guarda a mesma atenção, a mesma valorização dos sentimentos como é própria da juventude.  A poesia, afinal, guarda a mesma valorização do sonho como uma possibilidade concretizável.  

          Mas, para o "filisteu", toda arte, e não só a poesia, é apenas uma coisa tolerável.  Como também quem a faz.  Ele é incapaz de compreender o quanto poesia e poeta jamais serão demais no mundo.  Porque, como dizia Elliot, apreendendo ou atribuindo novos matizes de significado às palavras, o poeta concorre para o refinamento da sensibilidade dos homens e, portanto, para o aperfeiçoamento do convívio, para a civilização.  E por isso é que a poesia, acho que Elliot tinha razão, tem uma função social.    

(Crônica publicada no DIARIO DE PERNAMBUCO, 
 5 de janeiro de 1984 / Transcrita do livro A VOLTA DO CIGANO 
- Crônicas, artigos e entrevistas literárias de Sebastião Vila Nova - 
 Fundação Joaquim Nabuco / Editora Massangana, Recife, PE, 2016)

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SEBASTIÃO VILA NOVA, alagoano de nascimento (1944). 
Poeta, cronista, sociólogo, professor, 
publicou, entre outros, estes livros : INTRODUÇÃO À 
SOCIOLOGIA, SOCIOLOGIAS E PÓS-SOCIOLOGIAS 
EM GILBERTO FREYRE; e DONALD PIERSON E 
A ESCOLA DE CHICAGO NA SOCIOLOGIA BRASILEIRA: 
ENTRE HUMANISTAS E MESSIÂNICOS.  
Em 2002, recebeu o título de "Cidadão Pernambucano", 
concedido pela Assembléia Legislativa do Estado. 
Faleceu, no Recife, no início deste ano de 2018. 





terça-feira, 20 de março de 2018

DIA DO POETA (14 de Março, 2018) - Teresinka Pereira







Teresinka Pereira, poetisa e tradutora 
(Brasil - Estados Unidos) 




A PALAVRA RENASCE 
NA VOZ DE UM POETA 
QUE RESPIRA EMOÇÕES  
EM RITMO DE SABEDORIA.  



O POETA TEM ALMA 
DE ARTISTA E ANJO: 
O MUNDO E O CÉU 
ABENÇOAM SEU TEMPO 
INTEIRO EM UM SÓ DIA.  





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TERESINKA PEREIRA nasceu no Brasil e tem residência 
nos Estados Unidos desde a época da ditadura militar 
(década de 1960). 
É presidente da Associação Internacional de Escritores 
e Artistas (IWA), organização que reúne mais de 1.400 
membros nos cinco continentes. Escreve e publica poemas 
em português, espanhol e inglês.  
Poetisa e tradutora, divulga a poesia brasileira entre os 
povos dos países, por onde sempre viaja, em busca de 
novas experiências de vida e de arte poética.   

sexta-feira, 2 de março de 2018

JOSÉ GOMES FERREIRA : "VAI-TE, POESIA !"





JOSÉ GOMES FERREIRA  
(Parque dos Poetas, 
Oeiras, Lisboa, Portugal) 



VAI - TE, POESIA ! 



Deixa-me ver a vida
exacta e intolerável
neste planeta feito de carne humana a chorar
(...)


Vai-te, Poesia ! 


Não quero cantar. 
Quero gritar ! 



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JOSÉ GOMES FERREIRA  -  Poeta português, nascido em Porto 
no dia 9 de junho de 1900, faleceu, aos 84 anos, no dia 8 
de fevereiro de 1985, em Lisboa. Também ficcionista, cronista, 
ensaísta e tradutor, publicou mais de 35 livros.  
Em 1978 foi projetada, em Lisboa, pelo seu filho Raul Hestnes 
Ferreira, a Escola Secundária de Benfica, que, em sua homenagem, 
recebeu a denominação de Escola Secundária de José Gomes 
Ferreira.  

(Mais informações : http://pt.wikipedia.org/wiki/Jose_Gomes_Ferreira#Obra)



terça-feira, 23 de janeiro de 2018

DEOLINDO TAVARES : "Sou o maior de todos os descobridores"





DEOLINDO TAVARES 
(Nascido no Recife, em dezembro/1918, 
faleceu no Rio de Janeiro, RJ, 
aos 24 anos de idade) 




O POETA 


Sou mais pobre do que Job. 
Sou mais rico do que Salomão. 
Sou um poeta. Sou o maior de todos os descobridores. 
Sem navio, sem bússola e sem leme, 
descubro istmos e estradas. 
Posso ser amado e odiado, condenado e insultado, 
sem odiar, sem condenar, sem insultar. 
Sei tão somente amar e perdoar. 
Não tenho castelos, nem rosas, nem amores, 
mas, em misterioso sonho, 
ora passeio no carro de Salomão, 
ora durmo sobre as cinzas de Job. 
Alimento-me de céu, de flores e da beleza eterna
das paisagens de Deus;
adormeço num som, 
desperto numa cor, 
morro afogado no mar de uma inesperada estrela. 
Para mim não há, nem ontem, nem amanhã, nem depois, 
vida e morte, alegria nem dor.  
Para mim o dia é uma eternidade. 
A eternidade o menor tempo; 
para mim o tempo não existe, 
pois rasguei todos os calendários do mundo. 
Um dia, tendo as mãos límpidas, a alma serena 
e pureza em meu coração,
caminharei em firmes passos para o céu de Cristo ou de Maomé.   


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Transcrito do livro POESIAS, de Deolindo Tavares  
- Governo do Estado de Pernambuco / Secretaria de Turismo, 
Cultura e Esportes / FUNDARPE / 
CEPE - Companhia Editora de Pernambuco
( Recife, PE, 3a. edição, 1988)