sábado, 7 de julho de 2018

JORGE LUÍS BORGES : "A poesia pode saltar sobre nós a qualquer instante"







Jorge Luís Borges, 
poeta, contista, tradutor, 
crítico literário e ensaísta argentino
(1899 - 1986) 



          "Passamos à poesia; passamos à vida.  E a vida, tenho certeza, é feita de poesia.  A poesia não é alheia - a poesia, como veremos, está logo ali, à espreita.  Pode saltar sobre nós a qualquer instante.  Ora, tendemos a fazer uma confusão corriqueira.  Pensamos, por exemplo, que se estudarmos Homero, ou a Divina Comédia, ou Frei Luís de León, ou Macbeth, estaremos estudando poesia. Mas os livros são somente ocasiões para a poesia.  Creio que Emerson escreveu em algum lugar que uma biblioteca é um tipo de caverna mágica cheia de mortos.  E aqueles mortos podem ser ressuscitados, podem ser trazidos de volta à vida quando se abrem as suas páginas.  Falando sobre o bispo Berkeley 
(que, permitam-me lembrar, foi um profeta da grandeza dos Estados Unidos), lembro que ele escreveu que o gosto da maçã não estava nem na própria maçã - a maçã não pode ter gosto por si mesma - nem na boca de quem come.  É preciso um contato entre elas.  O mesmo acontece com um livro ou uma coleção  deles, uma biblioteca.  Pois o que é um livro em si mesmo ? Um livro é um objeto físico num mundo de objetos físicos.  É um conjunto de símbolos mortos.  E então aparece o leitor certo, e as palavras - ou, antes, a poesia por trás das palavras, pois as próprias palavras são meros símbolos - saltam para a vida, e temos uma ressurreição da palavra." 



(Trecho de O Enigma da Poesia / 
 Reprodução do blog de Luiz Alberto Machado 
- http://blogdotataritaritata.blogspot.com.br ) 
  

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