quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Juareiz Correya : UM POETA É A SUA POESIA






JORNAL DO COMMERCIO / 
Caderno C (Recife, PE - 
25 de Outubro de 1998) 




UM POETA É A SUA POESIA 

À memória do poeta 
José Paulo Paes


Conhecer um poeta, quem sabe 
um dia alguém conhecerá ?  
Parentes e aderentes, em casa, 
a alguns metros na rua, noutros lugares do mapa, 
lembram o seu nome ? 
Próximos e amigos, por caminhos 
diários, memórias, planos futuros, 
estão ao seu lado quando ele se anuncia ? 
Mulheres, companheiras, parceiras da alegria 
ou da parte triste do coração, 
terão qualquer discernimento ou sabedoria 
quando o poeta fala chora ri soluça 
canta explode ? 
ou quando o poeta silencia ? 
Dão importância a qualquer palavra 
 que o poeta escreve ou escreverá um dia ? 
Críticos e esgrimistas cínicos e céticos -     
plantados nas esquinas, chocando nos bares, 
mercadejando nas redações de jornais, rádios e TVs, 
ou piruetando nos salões e festas vazias, 
os críticos sabem o que é o poeta e a sua poesia ? 
Sabem que a palavra é arrancada da alma, 
que há uma hemorragia em cada verso ? 
Nenhum crítico é capaz de descobrir a dor 
- a inconcluída dor humana - 
que impõe ao poeta a confissão medonha 
intransferível e única 
que ninguém vê nem sente.  
Sabem todos o que é o inferno por dentro 
do mesmo corpo trespassado de fogo e luz ? 
As danações misérias sortes iluminações e desertos 
torturando e animando cada passo gesto 
toque risco pétala suspiro e frêmito e grito 
que condenam o poeta ao seu poema ?   


Ah! se soubessem que o poeta 
não é melhor nem maior do que ninguém 
- é só um homem com a capacidade de fazer versos - 
mas que ele é o melhor e o maior de todos os homens 
com a humanidade do seu coração em tudo o que escreve.