quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

"COMPOSIÇÕES", DE EDSON RÉGIS







Edson Régis, poeta 
e jornalista pernambucano 



I

Não terei a pressa 
que aniquila o verso.  
Na manhã presente 
a flor talvez não seja
como anunciaram.  

Esta é a palavra 
de límpida fonte, 
precisa como o sábado, 
nítida e leve 
como pura lágrima, 
lenta, rolando 
pela face : 
liga teu verso 
a ti mesmo 
que ao céu noturno
será mais puro, 
embora um mistério.    


II 


Agora que é noite
e resta apenas uma estrada  
o silêncio é cultivado 
até a aurora.     

Na fria areia
o primitivo gesto 
do poeta dorme. 
Asas lhe faltam, 
à terra está preso.  
Noite de ferro 
pesa nos seus braços.  

O poeta entrega-se 
aos seus hábitos
e prepara uma fuga
- um novo reino 
entre a vida e a morte.  



(Transcrito da antologia  
PERNAMBUCO, TERRA DA POESIA 
- organizada por Antonio Campos 
e Cláudia Cordeiro) 


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EDSON RÉGIS DE CARVALHO -  Nasceu em Timbaúba - PE, 
no ano de 1923. Bacharel em Direito, poeta e jornalista especializado
na crônica política. Dirigiu a revista Região e organizou, em João 
Pessoa - PB, "O Correio das Artes" suplemento literário do jornal 
A União (biênio 1949 - 1950). Publicou, nesse período, a Antologia 
dos Novos, com orientação de Ferreira de Holanda. Publicou o livro 
de poesia O Deserto e os Números (1949). 
 Faleceu no Recife, aos 43 anos de idade (25 de julho de 1966), 
vítima de um atentado a bomba, no Aeroporto dos Guararapes, 
quando, por indicação do governador Paulo Guerra, foi recepcionar 
o então Presidente da República, General Costa e Silva. 
Em 1971, a Imprensa Universitária da UFPE 
publicou a edição póstuma de As Condições Ambientes,
incluindo a reedição do seu primeiro livro.