sábado, 28 de abril de 2018

SEBASTIÃO VILA NOVA : "De poetas e de poesia"






SEBASTIÃO VILA NOVA  
(Sociólogo da Fundação Joaquim Nabuco 
e professor da UNICAP, do Recife - PE) 



          (...) Afinal, esse negócio de fazer poesia, como se entende comumente a poesia, é uma temeridade, uma loucura.  É coisa para abalar a reputação de qualquer um.  Antes de mais nada, porque fazer poesia é subverter uma das coisas mais caras ao homem, o seu instrumento básico de comunicação: a linguagem verbal.  Por isso é que a poesia, a partir do fato de que ela se baseia na subversão do sentido cotidiano das palavras, é uma atividade não só marginal, mas antissocial.  Por isso, também, é que quem se mete com esse negócio de andar fazendo e principalmente publicando poesia deve ter a consciência do estigma que a sociedade reserva a esse tipo de transgressor.   A maioria das pessoas, os homens "sérios" e práticos, os sensatos, os virtuosos de domingo costumam olhar, no mínimo com tolerância, quando não com desdém, para quem perde seu tempo com essa "coisa inútil".  Quem não sabe o que é que se quer dizer quando se afirma, em geral com algum desprezo mal disfarçado em condescendência, que "fulano é um poeta" ? 

           (...) Mas acontece que a poesia, toda poesia, guarda a mesma atenção, a mesma valorização dos sentimentos como é própria da juventude.  A poesia, afinal, guarda a mesma valorização do sonho como uma possibilidade concretizável.  

          Mas, para o "filisteu", toda arte, e não só a poesia, é apenas uma coisa tolerável.  Como também quem a faz.  Ele é incapaz de compreender o quanto poesia e poeta jamais serão demais no mundo.  Porque, como dizia Elliot, apreendendo ou atribuindo novos matizes de significado às palavras, o poeta concorre para o refinamento da sensibilidade dos homens e, portanto, para o aperfeiçoamento do convívio, para a civilização.  E por isso é que a poesia, acho que Elliot tinha razão, tem uma função social.    

(Crônica publicada no DIARIO DE PERNAMBUCO, 
 5 de janeiro de 1984 / Transcrita do livro A VOLTA DO CIGANO 
- Crônicas, artigos e entrevistas literárias de Sebastião Vila Nova - 
 Fundação Joaquim Nabuco / Editora Massangana, Recife, PE, 2016)

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SEBASTIÃO VILA NOVA, alagoano de nascimento (1944). 
Poeta, cronista, sociólogo, professor, 
publicou, entre outros, estes livros : INTRODUÇÃO À 
SOCIOLOGIA, SOCIOLOGIAS E PÓS-SOCIOLOGIAS 
EM GILBERTO FREYRE; e DONALD PIERSON E 
A ESCOLA DE CHICAGO NA SOCIOLOGIA BRASILEIRA: 
ENTRE HUMANISTAS E MESSIÂNICOS.  
Em 2002, recebeu o título de "Cidadão Pernambucano", 
concedido pela Assembléia Legislativa do Estado. 
Faleceu, no Recife, no início deste ano de 2018. 





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