domingo, 1 de novembro de 2015

LUCIAN BLAGA : "OS POETAS"









Não se espantem. Os poetas, todos os poetas  
são um único, indiviso, ininterrupto povo. 
Falando, são mudos. Pelas eras em que nascem e morrem, 
cantando, estão a serviço de uma fala perdida há muito. 
Profundamente, através de povos que surgem e desaparecem, 
pelo caminho do coração eles sempre vêm e passam.  
Por som e palavra eles se separam e competem entre si. 
São semelhantes pelo que não dizem. 
Eles calam como o orvalho. Como o sêmen. Como uma saudade. 
Como as águas eles silenciam, caminhando sob a seara, 
e depois sob o canto dos rouxinóis, 
fonte se fazem na clareira, fonte sonora.   



(Tradução de Luciano Maia /
Caderno Cultura - Diário do Nordeste
- Fortaleza, CE - Julho de 1966)





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LUCIAN BLAGA (Romênia,  1895 - 1961). 
Poeta, filósofo, ensaísta e dramaturgo. 
Traduzido em vários países da Europa.




sábado, 10 de outubro de 2015

RUBENS JARDIM : "A POESIA É UMA NECESSIDADE CONCRETA DE TODO SER HUMANO"





"A verdadeira poesia é uma viagem ao desconhecido. 
É caos e criação. Vida e morte. Verbo e substantivo. 
Espanto e descoberta. E mesmo que seja entendida 
como arma ou alma carregada de futuro, a poesia é 
a mais imponderável das criações do espírito humano. 
É fogo e fumaça. Grito e silêncio. Passatempo e sacramento. 
Solidão e intercâmbio. Caminho solitário 
que cruza com o caminho de todos. 
E todos nós percebemos, intuímos e sabemos que a poesia 
é um desafio à razão.  Talvez porque ela, poesia, 
seja efetivamente a única razão possível.  
É um paradoxo, é claro. Mas quando se trata de poesia 
é necessário estar aberto a um infindável número
 de questões complexas e absurdas.  
Afinal, como é que uma coisa que não serve para nada, 
ninguém paga aluguel com palavras e nem faz crediário 
com poemas, pode ser tão necessária e indispensável à vida humana ?" 

(RUBENS JARDIM)


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Transcrito do site RUBENS JARDIM
(http://www.rubensjardim.com) 

domingo, 12 de julho de 2015

ESCREVO PARA SER LIDO, de Juareiz Correya








ESCREVO PARA SER LIDO 


"(...) 
Escrevo porque a poesia é necessária  
E nada mais." 

Juareiz Correya  



sexta-feira, 17 de abril de 2015

DESTINO DE UM POEMA DE ARIADNE CAVALCANTE






Um poema chegou às mãos de Ariadne
sempre carinhosa com cada palavra
sempre doce amorosa com cada verso
como quem toca a carne humana.  


O poema acariciou a face da poetisa
chegou à sua boca como um beijo
com o seu ritmo forte sensual tropical.


O poema invadiu o seu corpo
e no coração aceso
com a ternura de quem não tem pressa
descobriu que o seu destino
era ser escrito
pela alma criadora de Ariadne.  


Juareiz Correya 

(Recife, 12 / fevereiro 2015) 




sexta-feira, 20 de março de 2015

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN : "A POESIA PEDE-ME APENAS A INTEIREZA DO MEU SER"







     "A poesia não me pede propriamente uma especialização, pois a sua arte é a arte do ser. Também não é tempo ou trabalho o que a poesia me pede. Nem me pede uma ciência, nem uma estética, nem uma teoria. Pede-me apenas a inteireza do meu ser, uma consciência mais funda do que a minha inteligência, uma fidelidade, mais pura do que aquela que eu possa controlar. Pede-me uma intransigência sem lacuna. Pede-me que arranque de minha vida que se quebra, gasta, corrompe e dilui uma túnica sem costura.  Pede-me que viva atenta como uma antena, pede-me que viva sempre, que nunca durma, que nunca me esqueça. Pede-me uma obstinação sem tréguas, densa e compacta."  
(ArtePoética I) 





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Transcrito da publicação ALGUMAS POETISAS PORTUGUESAS
DO SÉCULO XX, de Maria de Lourdes Hortas
- 17o. Encontro de Professores de Literatura Portuguesa
(Belo Horizonte, MG, 1999) 

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

JUAREIZ CORREYA : "POESIA MODERNA"






Os poetas modernos 
brasileiros e portugueses 
são um pessoa 
com os seus múltiplos 
caeiros campos e reis 
e sentimentos drummundos 
bandeiras e pasárgadas  





(Jardim Atlântico /Olinda, 2005) 





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Do livro inédito POEMAS DO NOVO SÉCULO 

sábado, 14 de fevereiro de 2015

MARISETE ZANON : "QUANDO O POETA ESCREVE O UNIVERSO RESPLANDECE"






Do útero já vim tatuada
meu destino sina
pariu-me poeta
porque todo poeta
é redundantemente sensibilidade
e neologismo
As convulsões
e as dores multiplicadas
por essa minha atitude despojada
de amar demais as palavras
de amar o impossível desconhecido
que apascenta corredeiras
e desestabiliza a brisa
são árvores a darem-me papel
e eu sou como a traça
que rói o meio dos poemas
onde pulsa o pulmão  do poema
e quando se rompe o casulo
espalham poemas pelos ares
porque quando o poeta escreve
o universo resplandece
e almas suspiram aliviadas.        




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MARISETE ZANON - Nasceu em São Paulo (SP), viveu em Porto 
Alegre (RS) e reside, atualmente, em Foz do Iguaçu (PR). 
Publica o blog Confissionarium (http://umolhardeconfissão.blogspot.com) 




quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015








Banner criado para divulgação permanente 
em todos os blogs da ABLNE - 
Associação de Blogs Literários do Nordeste, 
a primeira associação regional 
de blogs literários do Brasil. 
(Criação de João Guarani  
- Recife, Pernambuco) 



terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

MARCELO MÁRIO DE MELO : "A LINGUAGEM POÉTICA"





     "Em lugar da escrita instrumental, objetiva e bem comportada, o poeta coloca a criatividade em primeiro plano e, se for necessário, transgride as regras e as limitações ditadas pela gramática, as convenções, os preconceitos ideológicos e linguísticos, a opinião pública, a moralidade e os jogos de interesses.  
     O poeta não segue uma pauta exterior, um esquema restrito como o que estudamos na linguagem instrumental e puramente comunicativa. Ele trabalha a palavra antenada com o mundo interior, a vida social e o cosmos, abrindo a sua sensibilidade para pensamentos, sensações, sentimentos, lembranças e visões.  A sua matéria prima são ideias, associações de palavras, imagens, ritmos, sonoridades, vibrações.  Com isto ele constrói o seu texto e o seu diferencial. Aí se resume a chamada liberdade poética."  (MARCELO MÁRIO DE MELO)




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(Trecho do artigo "A Linguagem Poética" 
  - Folha de Pernambuco / Opinião, página 8 
 - Recife, PE,  11 de novembro de 2014)

sábado, 3 de janeiro de 2015

NELSON ASCHER : "14 VERSOS"





Não zombes, crítico, da forma
que, além de poetas como Dante,
Quevedo ou Mallarmé durante
os séculos quando era a norma,


Púchkin, narrando com maestria
um duelo em seu Ievguêni Oniéguin
(num duelo desses morreria),
usou como outros não conseguem.


Sem rejeitar a própria era,
Drummond e Rilke, todavia,
levaram o soneto a extremos


de perfeição e, em sua cegueira,
Borges também, conforme via
mais do que nós, que vemos, vemos.



(Transcrito da seção POEMA / Caderno Programa - 
Folha de Pernambuco, Recife, novembro/ 2012)


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NELSON ASCHER nasceu em São Paulo (SP) 
no ano de 1958. Poeta, crítico, editor, tradutor.  
Traduziu os poetas T.S. Ellliot (EUA) e 
Herberto Padilla (Cuba).  Prêmio Portugal Telecom, 
em 2006, com o livro de poesia "Parte Alguma".