sábado, 22 de fevereiro de 2014

SÓ OS POETAS TÊM LÍNGUA, de Juareiz Correya




"Minha Pátria é a minha Língua." 
                        (Fernando Pessoa)



Tua Pátria é a Língua Portuguesa,
Fernando Álvaro Alberto Ricardo Pessoa.  
A minha é a Língua Brasileira
com tudo de português e índio e negro que nela há.
Só os poetas têm Língua,
tu sempre soubeste disto.
A maioria dos homens não sabe nem quer saber
o que é uma Língua
(nem o valor que a Pátria tem).
Os doutores têm as suas Ciências
- o que não é uma Língua.
Os analfabetos não têm nem credo nem nada
- o que não é uma Pátria.  

Só os poetas têm Língua
e os homens que só escrevem
- mas não escrevem versos  -,
escrevem em qualquer língua
mas não escrevem a sua pátria.

Outra língua identifica qualquer homem
mas não identifica um poeta :
só a sua própria Língua
revela o poeta e a sua Pátria inteira.  




(Do livro inédito POEMAS DO NOVO SÉCULO)       

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

DECLARAÇÃO, de Lara Miranda




Poesia,
eu te amo assim mesmo
como tu és :
pobretona,
sem senso prático,
delirantemente sediciosa,
obsessiva artesã de simbolismo
ou trocando palavras
por abismos incomunicáveis.
E essa irresistível atração
por anátemas,
eu te perdoo, meu bem.
Depravada ou franciscana,
eu sei driblar teus excessos.
Eu te adoro.
Serei sempre teu,
minha deusa angustiada,
minha neguinha volúvel,
minha assanhada
escafandrista
do desconhecido.




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Do livro MARGINAL RECIFE - Coletânea Poética I 
Prefeitura do Recife / Secretaria de Cultura / 
Fundação de Cultura Cidade do Recife.  
Organizadores : Cida Pedrosa, Miró, Valmir Jordão 
- Recife, PE, 2002.