sexta-feira, 20 de março de 2015

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN : "A POESIA PEDE-ME APENAS A INTEIREZA DO MEU SER"







     "A poesia não me pede propriamente uma especialização, pois a sua arte é a arte do ser. Também não é tempo ou trabalho o que a poesia me pede. Nem me pede uma ciência, nem uma estética, nem uma teoria. Pede-me apenas a inteireza do meu ser, uma consciência mais funda do que a minha inteligência, uma fidelidade, mais pura do que aquela que eu possa controlar. Pede-me uma intransigência sem lacuna. Pede-me que arranque de minha vida que se quebra, gasta, corrompe e dilui uma túnica sem costura.  Pede-me que viva atenta como uma antena, pede-me que viva sempre, que nunca durma, que nunca me esqueça. Pede-me uma obstinação sem tréguas, densa e compacta."  
(ArtePoética I) 





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Transcrito da publicação ALGUMAS POETISAS PORTUGUESAS
DO SÉCULO XX, de Maria de Lourdes Hortas
- 17o. Encontro de Professores de Literatura Portuguesa
(Belo Horizonte, MG, 1999)