sábado, 20 de novembro de 2010

PROCLAMO TODOS OS POETAS OS MEUS MESTRES - Pablo Neruda

     "O mundo das artes é uma grande oficina em que todos trabalham e se ajudam. E, em primeiro lugar, estamos ajudados pelo trabalho dos que nos precederam, e já se sabe que não há Rubén Darío sem Góngora, nem Apollinaire sem Rimbaud,  nem Baudelaire sem Lamartine, nem Pablo Neruda sem todos eles juntos. E é por orgulho, não por modéstia, que proclamo todos os poetas os meus mestres, pois que seria de mim sem minhas longas leituras de quanto se escreveu em minha pátria e em todos os universos da poesia ?" 


(do livro PARA NASCER NASCI,
  de Pablo Neruda
- Editora Record, Rio, 1977)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

HERMÉTICAS SÃO AS PESSOAS, NÃO OS POEMAS, de Carlos Nejar

     "Aprendi que as palavras têm cheiro, gosto, cor. Há todo um mundo escondido nelas. É preciso chegar a esse mundo silencioso.  
     Quando é poesia, não existe hermetismo, a não ser aquela névoa que cobre, levemente, a terra. Herméticas são as pessoas, não os poemas. Sobretudo, as que chamam "herméticos" os poemas, tentando afastar o possível leitor.
     Devemos nos aproximar mais do poema, lendo-o, aceitando-o, ser vivo, inteiro, com mãos, braços. Às vezes um pouco magro, outras, gordo, alto ou baixo. A vida salta adiante. Contrapõe-se, desafia. Muitas vezes não se pode caçá-la, borboleta.
     Um poema lido em voz alta - e há uma tradição fonética na poesia do Rio Grande - pode tomar compreensão que parece não ter no seu silêncio sobre a página.
     Embora o poema também se alimente de silêncio.  Como as ervas se nutrem, densamente, de orvalho."

 CARLOS NEJAR 

(do livro A CHAMA É UM FOGO ÚMIDO,
~Coleção Afrânio Peixoto/
Academia Brasileira de Letras, Rio, 1994)
    

sábado, 6 de novembro de 2010

"Poesia é o reino de uma razão que está além da razão" / Lêdo Ivo

     "Na história da poesia, as invenções que surgem  ao dia claro nem sempre ostentam ou apregoam as suas longas gestações, apresentando-se habitualmente como frutos surpreendentes  dos instantes e temperamentos. Tais descobertas quase sempre restauram  e retomam técnicas abandonadas e antigas proscrições, sustentando o movimento pendular da poesia, sempre oscilante entre o rigor e o excesso. Mas no largo território onde as epigonias surgem desenvoltas como cogumelos ou estações repetidoras, as famílias espirituais estão longe de exibir suas cartas nítidas de procedência.  Corre-lhes nas veias um sangue misturado e confundido, e sempre será difícil para a crítica mais atilada ou ambiciosa discernir entre o construtivismo mais acirrado e o mais escancarado movimento de libertação do poeta que, sacudindo o jugo das injunções escolares ou geracionais, abre ou, de repente, encontra abertas as portas do seu cativeiro, e avança soberanamente com a sua exaltação pessoal.  

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(...) o reino da poesia é o reino de  uma razão que está além da razão : no domínio privilegiado da imaginação acesa e iluminadora."   


                                                                              LÊDO IVO 
                                                                     (Apresentação de "Fogo Úmido", 
                                                                      de Carlos Nejar -  ABL, Rio de Janeiro, 1994)