sexta-feira, 23 de setembro de 2011

AS PALAVRAS, de Octavio Paz




Girar em torno delas,
virá-las pela cauda (guinchem, putas),
chicoteá-las,
dar-lhes açúcar na boca, às renitentes,
inflá-las, globos, furá-las,
chupar-lhes o sangue e medula,
secá-las,
capá-las,
cobri-las, galo galante,
torcer-lhes o gasnete, cozinheiro,
 depená-las,
destripá-las, touro,
boi, arrastá-las,
fazer, poeta,
fazer com que engulam todas as suas palavras.  

(Pequena antologia de "Libertad bajo palabra") 


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Transcrito do livro TRANSBLANCO, 
de Octavio Paz 
 - Tradução de Haroldo de Campos  
- Editora Guanabara, Rio de Janeiro, RJ, 1986 

sábado, 17 de setembro de 2011

"A IMPORTÂNCIA DA POESIA DA VIDA" (Luiz de Miranda)




"Várias vezes tenho me batido pela importância da poesia da vida, aquela comum a nós todos. Distante, portanto, dos caminhos da poética, do intrínseco do poema. Parece-me que ela é a chama que falta ao coração do homem moderno. A luz para nos salvar do tédio, da melancolia, da injustiça, da ferocidade que assaltam a coragem de quem resolve assegurar o direito de participar efetivamente da história do seu povo, e não ser um mero objeto nas mãos dos poderosos.  Essa poesia da vida é um caminho para sobreviver, com dignidade, ao tempo infeliz que temos atravessado. Esse sentimento de amanhecer sob o signo da poesia, que analogamente nos traz o poeta, o criador de mundos, é, sem dúvida, uma lição de puro amor à vida."  (LUIZ DE MIRANDA)



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Da apresentação do livro RONDA ALTA (poesia)  
de Sérgio Borja
- Editora Movimento, Porto Alegre, RS, 1981

sábado, 10 de setembro de 2011

MÍNIMA POÉTICA (trechos), de Paulo Henriques Britto



Dizer não tudo, que isso não se faz,
nem nada, o que seria impossível;
dizer apenas o que é demais 
pra se calar e menos que indizível.
Dizer apenas o que não dizer 
seria uma espécie de mentira;
falar, não por falar, mas pra viver,
falar (ou escrever) como quem respira.
Dizer apenas o que não repita
a textura do mundo esvaziado;
escrever sim, mas escrever com tinta;
pintar, mas não como aquele que pinta 
de branco o muro que já foi caiado:
escrever, sim, mas como quem grafita.



(Transcrito da antologia
 A POESIA FLUMINENSE NO SÉCULO XX,
organizada por Assis Brasil 
- Fundação Biblioteca Nacional / Imago Editora /
Universidade de Mogi das Cruzes,SP /
Rio de Janeiro, RJ, 1998)