quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

SER POETA, de Florbela Espanca





Ser poeta é ser mais alto, é ser maior 
Do que os homens ! Morder como quem beija !
É ser mendigo e dar como quem seja 
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor !

É ter de mil desejos o esplendor 
E não saber sequer que se deseja !
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor !

É ter fome, é ter sede de Infinito !
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito !

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim 
E dizê-lo cantando a toda a gente !



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FLORBELA ESPANCA, poetisa portuguesa
(1894-1930)

sábado, 4 de fevereiro de 2012

A POESIA COMO MEIO DE SE ALCANÇAR A SABEDORIA, de Montez Magno




Nunca se considere um grande poeta
nem pense que escrever poesia
é uma porta aberta para o sucesso,
seja de que tipo for. 
Deixe o seu Ego trancado na gaveta
e abra o seu espírito para tudo,
livre-se das fórmulas e das formas
rígidas, da camisa de força 
das regras e das teorias cansadas.
Procure na sua respiração
o deus que precisa ser acordado
e com ele faça a sua trajetória
parecer uma antiga companheira,
aquela cuja visão é mais profunda
do que o Hades onde penetrou Orfeu. 


(Recife, 12-01-2003)


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Do livro inédito ENQUANTO RESPIRO,
de Montez Magno.