domingo, 30 de outubro de 2011

PABLO NERUDA : "Fiz respeitar, pelo menos em minha pátria, o ofício do poeta, a profissão da poesia"




     "Como poeta ativo compati o meu próprio ensimesmamento.  Por isso o debate entre o real e o subjetivo foi determinado dentro do meu próprio ser. Minhas experiências podem ajudar, sem pretensões de aconselhar ninguém. Vejamos à primeira vista os resultados.

     É natural que minha poesia esteja submetida ao juízo, tanto da crítica elevada como exposta à paixão do libelo. Isto faz parte das regras do jogo. Sobre esse ponto de discussão não tenho o que dizer mas tenho argumento. Para a crítica especializada, meu argumento são meus livros, minha poesia inteira. Para o libelo incompatível  tenho também o direito de argumentar com a minha própria e constante criação.
    
     Se o que digo parece vaidoso vocês teriam razão. Em meu caso, trata-se da vaidade do artesão que exercitou um ofício por longos anos com amor indelével.

     Mas de uma coisa estou satisfeito : de uma forma ou de outra fiz respeitar, pelo menos em minha pátria, o ofício do poeta, a profissão da poesia."      




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Transcrito do livro de memórias CONFESSO QUE VIVI,
de Pablo Neruda  / Tradução de Olga Savary
 - DIFEL Difusão Editorial S.A.,
   São Paulo / Rio de Janeiro, 1979

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A POESIA É VERDADE




não é verdade a poesia
porque é bela.
a poesia é bela
porque é verdade.


Juareiz Correya




(do ebook CORAÇÃO PORTÁTIL,
de Juareiz Correya 
- Emooby/Pubooteca, Portugal, 2011)

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

ANÚNCIO URGENTE, de Ieda Estergilda de Abreu




Procura-se um poeta 
com estrela na  testa 
e voz de profeta.

Apareça, poeta 
enxergarei a estrela 
entenderei a parábola.  

Precisa-se de um poeta 
do tamanho do seu tempo
pode vir de marte, do mato 
ou no vento.  

Precisa-se de um poeta 
dispensa-se currículo
o nome do barco é poesia.    



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Transcrito da antologia  
A POESIA CEARENSE NO SÉCULO XX, 
organizada por Assis Brasil  
- Fundação Cultural de Fortaleza / 
Imago Editora, Rio de Janeiro, RJ, 1996 

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

AS PALAVRAS, de Octavio Paz




Girar em torno delas,
virá-las pela cauda (guinchem, putas),
chicoteá-las,
dar-lhes açúcar na boca, às renitentes,
inflá-las, globos, furá-las,
chupar-lhes o sangue e medula,
secá-las,
capá-las,
cobri-las, galo galante,
torcer-lhes o gasnete, cozinheiro,
 depená-las,
destripá-las, touro,
boi, arrastá-las,
fazer, poeta,
fazer com que engulam todas as suas palavras.  

(Pequena antologia de "Libertad bajo palabra") 


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Transcrito do livro TRANSBLANCO, 
de Octavio Paz 
 - Tradução de Haroldo de Campos  
- Editora Guanabara, Rio de Janeiro, RJ, 1986 

sábado, 17 de setembro de 2011

"A IMPORTÂNCIA DA POESIA DA VIDA" (Luiz de Miranda)




"Várias vezes tenho me batido pela importância da poesia da vida, aquela comum a nós todos. Distante, portanto, dos caminhos da poética, do intrínseco do poema. Parece-me que ela é a chama que falta ao coração do homem moderno. A luz para nos salvar do tédio, da melancolia, da injustiça, da ferocidade que assaltam a coragem de quem resolve assegurar o direito de participar efetivamente da história do seu povo, e não ser um mero objeto nas mãos dos poderosos.  Essa poesia da vida é um caminho para sobreviver, com dignidade, ao tempo infeliz que temos atravessado. Esse sentimento de amanhecer sob o signo da poesia, que analogamente nos traz o poeta, o criador de mundos, é, sem dúvida, uma lição de puro amor à vida."  (LUIZ DE MIRANDA)



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Da apresentação do livro RONDA ALTA (poesia)  
de Sérgio Borja
- Editora Movimento, Porto Alegre, RS, 1981

sábado, 10 de setembro de 2011

MÍNIMA POÉTICA (trechos), de Paulo Henriques Britto



Dizer não tudo, que isso não se faz,
nem nada, o que seria impossível;
dizer apenas o que é demais 
pra se calar e menos que indizível.
Dizer apenas o que não dizer 
seria uma espécie de mentira;
falar, não por falar, mas pra viver,
falar (ou escrever) como quem respira.
Dizer apenas o que não repita
a textura do mundo esvaziado;
escrever sim, mas escrever com tinta;
pintar, mas não como aquele que pinta 
de branco o muro que já foi caiado:
escrever, sim, mas como quem grafita.



(Transcrito da antologia
 A POESIA FLUMINENSE NO SÉCULO XX,
organizada por Assis Brasil 
- Fundação Biblioteca Nacional / Imago Editora /
Universidade de Mogi das Cruzes,SP /
Rio de Janeiro, RJ, 1998)

domingo, 21 de agosto de 2011

CARLOS NEJAR : "O Poeta e a Sociedade"




"O poeta liga-se à sociedade pelo fato de estar nela, circunstancialmente. E por ser da estranha e cativante fauna humana. Desliga-se, entretanto, na medida em que seu tempo é mais vasto : o da cultura e da história.

Se o poeta estivesse integrado, não buscaria criar outra realidade. O artista sabe por instinto que a luta é surda. Podem ser utilizados os meios, a forma. Pode a própria sociedade aparentemente acomodar-se a ele, oficializando-o. Não por bondade. Mas para melhor absorvê-lo.

A sociedade, como certos animais, possui o faro premonitório de quem é a capaz de a subverter. Ou provocar-lhe a crise."  (CARLOS NEJAR)



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Transcrito do livro A CHAMA É UM FOGO ÚMIDO,
de Carlos Nejar - Coleção Afrânio Coutinho /
Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro, RJ, 1994