sábado, 17 de setembro de 2011

"A IMPORTÂNCIA DA POESIA DA VIDA" (Luiz de Miranda)




"Várias vezes tenho me batido pela importância da poesia da vida, aquela comum a nós todos. Distante, portanto, dos caminhos da poética, do intrínseco do poema. Parece-me que ela é a chama que falta ao coração do homem moderno. A luz para nos salvar do tédio, da melancolia, da injustiça, da ferocidade que assaltam a coragem de quem resolve assegurar o direito de participar efetivamente da história do seu povo, e não ser um mero objeto nas mãos dos poderosos.  Essa poesia da vida é um caminho para sobreviver, com dignidade, ao tempo infeliz que temos atravessado. Esse sentimento de amanhecer sob o signo da poesia, que analogamente nos traz o poeta, o criador de mundos, é, sem dúvida, uma lição de puro amor à vida."  (LUIZ DE MIRANDA)



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Da apresentação do livro RONDA ALTA (poesia)  
de Sérgio Borja
- Editora Movimento, Porto Alegre, RS, 1981

sábado, 10 de setembro de 2011

MÍNIMA POÉTICA (trechos), de Paulo Henriques Britto



Dizer não tudo, que isso não se faz,
nem nada, o que seria impossível;
dizer apenas o que é demais 
pra se calar e menos que indizível.
Dizer apenas o que não dizer 
seria uma espécie de mentira;
falar, não por falar, mas pra viver,
falar (ou escrever) como quem respira.
Dizer apenas o que não repita
a textura do mundo esvaziado;
escrever sim, mas escrever com tinta;
pintar, mas não como aquele que pinta 
de branco o muro que já foi caiado:
escrever, sim, mas como quem grafita.



(Transcrito da antologia
 A POESIA FLUMINENSE NO SÉCULO XX,
organizada por Assis Brasil 
- Fundação Biblioteca Nacional / Imago Editora /
Universidade de Mogi das Cruzes,SP /
Rio de Janeiro, RJ, 1998)

domingo, 21 de agosto de 2011

CARLOS NEJAR : "O Poeta e a Sociedade"




"O poeta liga-se à sociedade pelo fato de estar nela, circunstancialmente. E por ser da estranha e cativante fauna humana. Desliga-se, entretanto, na medida em que seu tempo é mais vasto : o da cultura e da história.

Se o poeta estivesse integrado, não buscaria criar outra realidade. O artista sabe por instinto que a luta é surda. Podem ser utilizados os meios, a forma. Pode a própria sociedade aparentemente acomodar-se a ele, oficializando-o. Não por bondade. Mas para melhor absorvê-lo.

A sociedade, como certos animais, possui o faro premonitório de quem é a capaz de a subverter. Ou provocar-lhe a crise."  (CARLOS NEJAR)



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Transcrito do livro A CHAMA É UM FOGO ÚMIDO,
de Carlos Nejar - Coleção Afrânio Coutinho /
Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro, RJ, 1994

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

LIÇÃO DA POESIA, de Juareiz Correya





Aprendi com os poetas que a Poesia 
não é a Língua
dos gramáticos 
dos doutores 
dos juízes
dos políticos 
dos comandantes 
dos governantes
dos presidentes
das Gramáticas Redações Tratados Leis e Constituições.    


Aprendi com os poetas que a Poesia 
é a Linguagem dos párias e excluídos 
das putas dos malditos e dos condenados 
dos injustiçados e dos sacrificados 
dos suicidas e dos inventores 
dos santos e dos dementes 
do Amor e da Alegria
do Sangue e do Coração 
do Espírito e da Luz.    



(Olinda, junho / 2005)


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Do livro inédito POEMAS DO NOVO SÉCULO

quarta-feira, 27 de julho de 2011

CRIADOR E CRIATURA, de Juareiz Correya




para Roberta Malta.


o poema tem corpo e alma
cidadania e identidade 
(embora seja de outro mundo)
uma voz de pronúncia certa 
palavras exatas sem medida 
a verdade no coração 
ardendo o seu sangue 
e o olhar de um instante 
eternizando os séculos 
sabe o que diz por sentir 
que o amor não é uma ciência 
e a vida é só passagem 
da humanidade para a luz.   



(do livro inédito
 POEMAS DO NOVO SÉCULO)

domingo, 17 de julho de 2011

HERMILO BORBA FILHO : "O poeta vive em estado de sofrimento por si mesmo e pelo mundo que o rodeia"

     "O poeta é um ser que vive permanentemente em estado de sofrimento por si mesmo e pelo mundo que o rodeia. Quando o mundo atinge a sua zona mais alta de tortura, tanto no estado da lucidez como no das intuições (quase sempre mais válidas), o poeta se contorce como uma salamandra no fogo e canta tragicamente.  Por ser mais agudo e perspicaz que as pessoas que o cercam vê tudo mais além, exacerbadamente, desejando o que pode e fazendo o que segundo os bons costumes não deveria fazer."
(HERMILO BORBA FILHO)


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JORNAL DA CIDADE, Recife, PE, 1975.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

O POEMA, de Moacyr Félix

Ou se vive por inteiro
ou pela metade a gente 
escreve a vida 
                      que não viveu.   

E o papel em branco então serve
como serve ao prisioneiro
a parede branca do cárcere.   

O que não foi é o ser que é 
no poema, esse ato mágico 
de uma chama que não se vê
tanto mais quanto ela queima 
no ar de uma cela vazia
o homem que é posto em pé 
sobre os mortos do seu dia.  



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Transcrito da antologia  SINGULAR PLURAL,
de Moacyr Félix
- Editora Record, Rio de Janeiro, RJ, 1998.