sexta-feira, 8 de julho de 2011

O POEMA, de Moacyr Félix

Ou se vive por inteiro
ou pela metade a gente 
escreve a vida 
                      que não viveu.   

E o papel em branco então serve
como serve ao prisioneiro
a parede branca do cárcere.   

O que não foi é o ser que é 
no poema, esse ato mágico 
de uma chama que não se vê
tanto mais quanto ela queima 
no ar de uma cela vazia
o homem que é posto em pé 
sobre os mortos do seu dia.  



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Transcrito da antologia  SINGULAR PLURAL,
de Moacyr Félix
- Editora Record, Rio de Janeiro, RJ, 1998.

sábado, 25 de junho de 2011

RUBENS JARDIM : "A poesia é uma necessidade concreta de todo ser humano"




     "A verdadeira poesia é uma viagem ao desconhecido. É caos e criação. Vida e morte. Verbo e substantivo. Espanto e descoberta. E mesmo que seja entendida como arma ou alma carregada de futuro, a a poesia é a mais imponderável das criações do espírito humano. É fogo e fumaça. Grito e silêncio. Passatempo e sacramento. Solidão e intercâmbio.  Caminho solitário que cruza com o caminho de todos. E todos nós percebemos, intuímos e sabemos que a poesia é um desafio à razão.  Talvez porque ela, poesia, seja efetivamente a única razão possível. É um paradoxo, é claro. Mas quando se trata de poesia é necessário estar aberto a um infindável número de questões complexas e absurdas. Afinal, como é que uma coisa que não serve para nada, ninguém paga aluguel com palavras e nem faz crediário com poemas, pode ser tão necessária e indispensável à vida humana ?"  (RUBENS JARDIM)


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Transcrito do site RUBENS JARDIM 
- http://www.rubensjardim.com/



segunda-feira, 23 de maio de 2011

"SÓ O POETA É QUEM A TUDO REINTEGRA" - Rainer Maria Rilke




Só o poeta é quem a tudo reintegra
Do que em cada um se desintegra.
Estranha beleza é dele autenticada,
Mesmo a tortura sua é celebrada
E as ruínas são de tal limpeza tranquila
Que a regra surge do que ele aniquila.

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Que fazes tu, poeta ? Diz - Eu canto.
Mas o mortal e mostruoso espectro
Como o suportas, como aceitas ? - Canto.
E que nome não tem, tu podes tanto
Que o possa nomear, poeta ? - Canto.
De onde te vem direito ao vero, enquanto
Usas de máscaras, roupagens ? - Canto.
E o que é violento e o que é silente encanto,
Astros e temporais, como te sabem ? - Canto.

(ÁUSTRIA)


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Da antologia POESIA DO SÉCULO  20,
organizada por Jorge de Sena
- Editorial Inova, Porto-Portugal, 1974.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

PROFANO, QUASE PROFETA - Natanael Lima Jr.





profano
insano
marginal
hominal
visceral
atemporal
cômico
crônico
acrônico
anacrônico
poeta
profeta  




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NATANAEL LIMA JR. é membro da ACL
- Academia Cabense de Letras (Cabo, PE) /
Poema transcrito do BLOG DE ANTONINO
(http://antoninojr.blogspot.com/)

sábado, 23 de abril de 2011

"NEGO-ME A MASTIGAR TEORIAS" / Pablo Neruda




     "Tenho já 53 anos e nunca soube o que é a poesia, nem como definir o que não conheço.  Tampouco pude aconselhar alguém sobre esta substância obscura e ao mesmo tempo deslumbrante."



(do livro ´PARA NASCER NASCI, memórias)

terça-feira, 19 de abril de 2011

POETA, EXEMPLAR DO SER HUMANO / Gerardo Melo Mourão




     "O Poeta, justamente o habitante estrangeiro  do planeta em que vivemos, é o único que pode ser eleito, em todos os tempos, como exemplar do ser humano,  para o episódio proposto por Ortega y Gasset ("Qual seria o representante típico e exemplar do nosso planeta ?" )  Porque, não sendo escravo de tempo algum, ele é o senhor de todos os tempos."    



                                                                                             ("Folha de S. Paulo", São Paulo, SP, 1978)

sábado, 2 de abril de 2011

O PRIMEIRO DEGRAU, de Konstantinos Kaváfis




Foi a Teócrito queixar-se um dia
Eumene, poeta ainda muito jovem :
"Faz dois anos que escrevo e até agora
compus apenas um idílio.
Esse, o meu único trabalho pronto.
Pobre de mim ! Pelo que vejo, é alta,
deveras alta, a escada da Poesia. 
Estou no primeiro degrau : jamais,
infeliz que sou,  chegarei ao topo."
"Essas palavras, respondeu Teócrito,
"são um despropósito, blasfêmias.
Se estás no primeiro degrau, cumpria
te sentires feliz e envaidecido.
Chegar onde chegaste não é pouco,
nem é pequena  glória o que fizeste.
Do primeiro degrau, da mesma escada,
está bem distante o comum das pessoas.
Para pisar esse degrau de ingresso,
necessário é que sejas, por direito,
cidadão da cidade das idéias -
um título difícil : raramente
 fazem-se ali naturalizações.
De quantos na sua ágora legislam,
aventureiro algum pode zombar.
Chegar onde chegaste não é pouco,
nem é pequena glória o que fizeste."


(Tradução de JOSÉ PAULO PAES)

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Transcrito do livro POESIA MODERNA
DA GRÉCIA - Seleção, tradução direta do grego,
prefácio,  textos críticos e notas de José Paulo Paes -
Editora Guanaraba, Rio de Janeiro, RJ, 1986.