domingo, 2 de junho de 2019

OCTAVIO PAZ : "TRABALHOS DO POETA" (Fragmento)







OCTAVIO PAZ  (à esquerda da foto)
e o poeta Haroldo de Campos,
 seu tradutor, em São Paulo,  SP, 1985.



TRABALHOS DO POETA 
(Fragmento) 


Uma linguagem que corte o fôlego. Rasante, talhante, cortante. Um 
exército de espadas. Uma linguagem de aços exatos, de relâmpagos 
afiados, de esdrúxulas e agudas, incansáveis, reluzentes, metódicas 
navalhas. Uma linguagem guilhotina. Uma dentadura trituradora,
que faça uma pasta dos eutuelenósvóseles. Um vento de punhais
que desgarre e desarraigue e descoalhe e desonre as famílias, os templos, 
as bibliotecas, os cárceres, os bordéis, os colégios, os manicômios, as 
fábricas, as academias, os pretórios, os bancos, as amizades, 
as tabernas, a esperança, a revolução, a caridade, a justiça, as crenças, 
os erros, as verdades, a verdade.   



(Em ÁGUIA E SOL, de 1949 - 1950 / 
Transcrito do livro TRANSBLANCO, 
de Octavio Paz, em tradução de 
  Haroldo de Campos 
- Editora Guanabara, Rio de Janeiro, RJ, 1986) 

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OCTAVIO PAZ - Nasceu na Cidade do México (1914), capital 
do México, onde faleceu (1998). 
Poeta, ensaísta, tradutor e diplomata do seu País desde o ano 
de 1945. Viveu nos Estados Unidos, Espanha, França, 
Japão e Índia.  Publicou mais de 20 livros de poesia, 
 e incontáveis ensaios de literatura, arte, cultura e política.  
Entre outros, conquistou três grandes prêmios mundiais : 
Prêmio Jerusalém (1977), Prêmio Cervantes (1981) e 
Prêmio Nobel de Literatura (1990).  

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