segunda-feira, 19 de julho de 2010

"POESIA TIRA O SONO, É UM NEGÓCIO QUE NÃO AJUDA A DORMIR" (Caetano Veloso)

     "Houve um tempo em que eu lia muito poesia por gosto.  Mas acontece o seguinte, eu leio na hora de dormir, quando eu me deito. Só leio nessa hora.  Leio jornal durante o dia mas livro eu tenho vergonha de ler durante o dia, ir no escritório botar um livro e ler assim sentado.  Eu não sinto isso como natural.  Eu me deito e leio, o que quer que eu leia é nessa hora... Eu fico muito tempo lendo, porque eu demoro muito pra dormir,  e a poesia não dá sono.  Poesia tira o sono, poesia é um negócio que não ajuda a dormir.  A prosa não, toda prosa mesmo, qualquer coisa, "Guerra e Paz", qualquer livro, você lê, se interessa, mas a narração combina com você ir se acalmando... você vai continuar no dia seguinte, a história tem um fio. 

     Poesia não.  Poesia às vezes é um negocinho, um livro pequenininho, com umas poucas palavras em cada página, é uma coisa tão densa que lhe põe numa situação difícil... É curioso, você pode, fisicamente, ler um livro de poesia, às vezes muito denso, em 15 minutos, em 10 minutos, né ? 

    Se uma pessoa diz assim, vou ler "Mensagem", do Fernando Pessoa, todo, como quem lê um romance... Os poemas são pequenos, não são muitos, e o livro é pequeno.  Você lê aquilo rápido.  Mas é difícil que você realmente tenha lido aquele livro, porque são tantos romances que se passam às vezes entre duas palavras só."   



(Caderno MAIS!, Folha de São Paulo,
9 de agosto de 1992).   

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