quarta-feira, 7 de setembro de 2016

OLÍMPIO BONALD NETO : "POESIA É :"





Olímpio Bonald Neto  
(Olinda, PE) 




Ver na queimada o verde milharal, 
Na pedra muda, 
Outras vozes da vida ressoando.  


Na infinda luta do sobreviver
Inda querer  
As batalhas do amor.  


Na ante-Morte  do sono pressentir
Os dons da vida despertando poentes. 
E, em madrugadas descobrir poentes
E, na escuridão, o meio dia.   


Que vendo, descobrindo ou pressentindo 
O que ninguém, talvez, perceberia 
Faz-se um poema, pois a Poesia 
Nada mais é do que ver na semente 
A Flor e, até na Dor, Vida, somente !!!   


(Olinda, sexta-feira da Paixão de 2004) 



_______________________________________________
OLÍMPIO BONALD NETO nasceu em Olinda (PE). 
Poeta, contista, cronista, professor universitário. 
Pertence à Academia Pernambucana de Letras. 
Já presidiu a UBE - PE, sediada no Recife. 
Publicou estes livros de poesia : 
Tríptico - Vida, Paixão e Canto, Cantoria, 
Poética Olindense, O Livro de Poesia de Olímpio 
Bonald Neto.  



quinta-feira, 30 de junho de 2016

MARIA DO CARMO BARRETO CAMPELLO DE MELO : "DEPOIMENTO" (fragmento)






Maria do Carmo Barreto 
Campello de Melo 
(Recife, PE) 





Agora
devo só esperar que as coisas aconteçam  
anti-ser anti-sendo 
e surpreendendo o avesso das coisas  : 
                   o som silente do grito 
estrangulado na garganta e 
                                                 o anti-sol 
desta manhã nascemorrendo.   


Difícil amigo 
                                                         ser poeta nestes tempos
e nesta hora em que devo esperar 
que as coisas aconteçam e 
escrevo sobre a água um poema de amor  
                                                                                que não lerás.  


Difícil é ser poeta 
                              nestes tempos  
Difícil é ser.  




____________________________________________ 
Transcrito do livro PALAVRA DE MULHER 
(Poesia Feminina Brasileira Contemporânea) 
- Organizado por Maria de Lourdes Hortas  
(Editora Fontana, Rio de Janeiro, RJ, 1979) 

domingo, 22 de maio de 2016

BORIS PASTERNAK : "DEFINIÇÃO DE POESIA"


BORIS PASTERNAK 
(Primeiro Congresso de Escritores
Soviéticos, Moscou, Rússia, 1934) 




Um risco maduro de assobio. 
O trincar do gelo comprimido. 
A noite, a folha sob o granizo. 
Rouxinóis num dueto desafio. 


Um doce ervilhal abandonado
A dor do universo numa fava.  
Fígaro : das estantes e flautas - 
Geada no canteiro, tombado. 


Tudo o que para a noite releva  
Nas funduras da casa de banho, 
Trazer para o jardim uma estrela 
Nas palmas úmidas, tiritando.  


Mormaço : como pranchas na água, 
Mais raso. Céu de bétulas, turvo.  
Se dirá que as estrelas gargalham, 
E no entanto o universo está surdo.    



(Transcrito do blog A PLANÍCIE ENTRE MUNDOS 
- http://aplanicie.wordpress.com -, 
do escritor Paulo Victor Rechia Gomes da Silva) 


________________________________________________________
BORIS PASTERNAK nasceu em Moscou (fevereiro, 1890) 
e faleceu em Peredelkino (maio, 1960). Estudou Filosofia 
na Alemanha e retornou a Moscou em 1914, ano em que 
publicou o seu primeiro livro de poesia ("Gêmeo nas Nuvens").
Publicou ainda 8 livros de poesia e 8 livros de ficção, 
incluindo o seu famoso romance "Doutor Jivago"
(Itália, 1958).  Ganhou o Prêmio Nobel de Literatura - 
Ano 1958 e foi impedido, pelo Governo da União 
Soviética, de receber o prêmio, sendo obrigado a devolver 
a honraria. Falecido no ano de 1960, o escritor não pôde 
ver o seu livro "Doutor Jivago" se tornar um sucesso 
mundial no cinema (1965). E também a sua liberação 
na Rússia, somente em 1989, quase 30 anos após a sua morte.   

sábado, 2 de abril de 2016

MARIA DE LOURDES HORTAS : "A PÁTRIA DA GENTE É MESMO A NOSSA LÍNGUA"





NAVEGAÇÕES  (I)


"A minha pátria é a língua portuguesa." 
(FERNANDO PESSOA) 



A minha pátria, sim, por certo, é também aquela 
ilha caverna 
dentro de mim 
lugar onde 
é possível revisitar sempre 
o êxtase da fábula da infância  
ouvindo 
a música secreta  
dos temporais do gênese 
no perdido paraíso.   


A minha pátria é  
toda essa engrenagem de dizer  
minha casa de ser 
permanente textura 
de tudo o que penso e digo e escrevo e canto 
pelos quatro cantos da vida  
sempre com o gosto agreste das urzes e das rosas 
do mel e do pão 
da chuva e do vento 
das giestas e da serra.  


Tinhas razão, poeta  : 
a pátria da gente é mesmo a nossa Língua.  
Assim, eu mesma sou a minha Terra.    




_____________________________________________________ 
Transcrito do ebook inédito  
POESIA COMPLETA DE MARIA DE LOURDES HORTAS, 
a ser lançado, em breve, no Recife, 
na Panamerica Livraria  
(http://www.panamericalivraria.com.br   

sábado, 27 de fevereiro de 2016

ANTONIO GEDEÃO : "ESCREVO PARA ME VINGAR"





     "Poesia é uma forma de vingança. Escrevo para me vingar. Para me vingar da estupidez, da maldade, da ignorância, da fatuidade, da violência.  

     O poeta é um homem como outro qualquer, com a capacidade de fazer versos.

     Os meus poemas são mais elaborados enquanto caminho na rua. Quando estão prontos, escrevo-os, ou em pé ou sentado ou em qualquer sítio.  Não há portanto, ritual, nem na criação, nem na escrita.

     Magoa ouvir perguntar se a Poesia é uma atividade meramente lúdica. A Poesia é uma arma como uma bazuca, uma granada ou uma faca de cozinha."  



(Depoimento inédito do poeta Antonio Gedeão
 para o livro ENCONTRO COM A NOVA POESIA PORTUGUESA 
- organizado por Maria de Lourdes Hortas) 

____________________________________________
Transcrito da Revista POESIA  
 - Número 8,  Janeiro/Fevereiro 1981  - 
Nordestal Editora, Recife, PE

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

MÁRCIA MARACAJÁ : "O SILÊNCIO DA POESIA"





A poesia repousa no silêncio
Germina na angústia
E na balbúrdia dos sentidos
Brota do corpo-terra e ainda olho-d'água
Fortalece-se na fome das misérias gritantes
Embeleza-se com a nobreza das coisas
Que ignora vaidades  


A poesia não ocupa salas
Auditórios
Academias
É terra devoluta, usucapiada
Preenche almas
Empondera-se
Sem intenção
Por si só esclarece
Porque é de todo
Verdade e Essência


A poesia germina não se corrompe
Não se vende
Resiste a qualquer forma de escravidão
Chamam-lhe poema, literatura
Inventam nomes
Entretanto, como Deus,
Ela reside nos detalhes.  





(Transcrito do blog MÁRCIA MARACAJÁ  
- http://marciamaracaja.blogspot.com.br) 



domingo, 3 de janeiro de 2016

ADMMAURO GOMMES : "O POETA É UM FUNDADOR DE MUNDOS"





     "O poeta é um fundador de mundos e está sempre dando respostas, como se alguém lhe pedisse explicação dos fatos da vida.  Não como realmente são, mas como deviam ser.  Por isso, o inventor não leva muito em conta os acontecimentos reais.  Prefere criar sua própria versão, fazendo do feio bonito, do triste contente e do maldito, bendito."




______________________________________________
Tramscrito do blog PROFESSOR DE LITERATURA
- http://professordeliteratura.blogspot.com.br