quarta-feira, 23 de julho de 2014

PIER PAOLO PASOLINI : "AO PRÍNCIPE"







Se regressa o sol, se cai a tarde,
se a noite tem um sabor de noites futuras,
se um cochilo de chuva parece regressar
de tempos muito amados e jamais possuídos,
já não encontro felicidade nem no gozar nem no sofrer por isso :
já não sinto diante de mim toda a vida...
Para ser poeta há de ter muito tempo :
horas e horas de solidão são o único modo
para que se forme algo, que é força, abandono,
vício, liberdade, para dar elegância ao caos.
Eu, agora, tenho pouco tempo por culpa da morte
que vem logo, no anoitecer da juventude.  
Mas por culpa também desse nosso mundo humano
que tira o pão dos pobres, e dos poetas a paz.  




(Tradução de LUCAS LUCENA ROCHA, 
Recife, PE, 2014) 


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Colaboração de NENA MEIER
(Garanhuns, PE)    

sábado, 22 de fevereiro de 2014

SÓ OS POETAS TÊM LÍNGUA, de Juareiz Correya




"Minha Pátria é a minha Língua." 
                        (Fernando Pessoa)



Tua Pátria é a Língua Portuguesa,
Fernando Álvaro Alberto Ricardo Pessoa.  
A minha é a Língua Brasileira
com tudo de português e índio e negro que nela há.
Só os poetas têm Língua,
tu sempre soubeste disto.
A maioria dos homens não sabe nem quer saber
o que é uma Língua
(nem o valor que a Pátria tem).
Os doutores têm as suas Ciências
- o que não é uma Língua.
Os analfabetos não têm nem credo nem nada
- o que não é uma Pátria.  

Só os poetas têm Língua
e os homens que só escrevem
- mas não escrevem versos  -,
escrevem em qualquer língua
mas não escrevem a sua pátria.

Outra língua identifica qualquer homem
mas não identifica um poeta :
só a sua própria Língua
revela o poeta e a sua Pátria inteira.  




(Do livro inédito POEMAS DO NOVO SÉCULO)       

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

DECLARAÇÃO, de Lara Miranda




Poesia,
eu te amo assim mesmo
como tu és :
pobretona,
sem senso prático,
delirantemente sediciosa,
obsessiva artesã de simbolismo
ou trocando palavras
por abismos incomunicáveis.
E essa irresistível atração
por anátemas,
eu te perdoo, meu bem.
Depravada ou franciscana,
eu sei driblar teus excessos.
Eu te adoro.
Serei sempre teu,
minha deusa angustiada,
minha neguinha volúvel,
minha assanhada
escafandrista
do desconhecido.




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Do livro MARGINAL RECIFE - Coletânea Poética I 
Prefeitura do Recife / Secretaria de Cultura / 
Fundação de Cultura Cidade do Recife.  
Organizadores : Cida Pedrosa, Miró, Valmir Jordão 
- Recife, PE, 2002. 


quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

MURILO MENDES : PROSA SOBRE POESIA





"A poesia habita um mundo, a prosa outro. 

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O sofrimento dos poetas, dos artistas e dos santos torna-se o estrume espiritual da humanidade.

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Raramente me lembro de que sou escritor; nunca me esqueço de que sou poeta. 

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Viver a poesia é muito mais necessário do que escrevê-la. 

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Quem não encontrar poesia no infinitamente pequeno jamais a encontrará no infinitamente grande. 

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A escola futura deverá ser a base poética. Senão, servirá à burocracia e à guerra. 

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O atraso dos outros homens impele cada vez mais o poeta para o futuro."    




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(Do livro TRANSISTOR - Antologia de Prosa
- Murilo Mendes 
(Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, RJ, 1980 

sábado, 7 de dezembro de 2013

FERREIRA GULLAR : "MEU POVO, MEU POEMA"





Meu povo e meu poema crescem juntos
como cresce no fruto
a árvore nova

No povo meu poema vai nascendo
como no canavial
nasce verde o açúcar

No povo meu poema está maduro
como o sol
na garganta do futuro

Meu povo em meu poema
se reflete
como a espiga se funde em terra fértil

Ao povo seu poema aqui devolvo
menos como quem canta
do que planta



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Transcrito do livro POEMAS ESCOLHIDOS, 
de Ferreira Gullar  
- Coordenação e seleção de Walmir Ayala 
(Ediouro Publicações, Rio de Janeiro, RJ
-http://www.ediouro.com.br)  

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

ALBERTO DA CUNHA MELO : "A POESIA É UMA MONTANHA QUE SÓ FAZ CRESCER"





     "Todo grande poeta ama a sua língua natal e procura fazer dela a linguagem original da sua poesia. Ele é o guardião da beleza da língua que o ensinou a murmurar nos quartos escuros e decorar o que ia dizer à primeira namorada. Na mina de seu idioma, ele sabe encontrar a pepita mais brilhante, e sabe combinar estranhamente suas luzes no poema imortal. Mas, há também os poetas médios e pequeninos. Eles retiram o que podem daquela mina do idioma. A poesia é uma montanha que só faz crescer : os grandes poetas acrescentam-lhe um rochedo, os pequenos poetas nela depositam a sua pedrinha." 



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Transcrito da coluna MARCO ZERO
- Alberto da Cunha Melo /
Revista CONTINENTE Multicultural
- Número 74, Fevereiro 2007, Recife, PE -
Companhia Editora de Pernambuco - CEPE

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

LUIZ DE MIRANDA : "O POEMA É UM RIO DE IMAGENS"





     "O poema é um rio de imagens. 
       O poeta não é um prosador, 
       ele não conta, ele canta. 
       O meu verso tem uma cadência rítmica 
       de rimas internas e externas..." 




    (Em entrevista ao jornal ZERO HORA
      -http://zerohora.clicrbs.com.br)