domingo, 23 de junho de 2013

FREDERICO SPENCER : "EM MATÉRIA DE POESIA"





Quanto de poesia há
no chão de tua cozinha ? - O mundo
encharca o poema que ainda não nasceu
escaldado na pia :
o barro, as calçadas, o mangue
no prato vazio
do menino da boca da noite
morrerá no fim do dia
sem dizer seu nome.
Quanto de poesia há
 no dia dos meninos
nas calçadas, no barro, no mangue
na boca do mundo ?




(Do ebook ABRIL SITIADO, de Frederico Spencer,
 a ser publicado pelo selo Ebooks Panamerica / Panamerica Nordestal Editora - 
http://www.panamerica.net.br) 

quarta-feira, 29 de maio de 2013

VLADIMIR MAIAKOVSKI : "LEITURA DE POESIA ELEVA O GRAU DE CULTURA"




       OS OPERÁRIOS E OS CAMPONESES NÃO VOS COMPREENDEM
   

      "(...)
     
     Uma bibliotecária, lá do fundo do seu lugar, gritou, satisfeita, dando vazão ao seu ódio contra a nossa literatura :
     - Ah, ah! O que é certo é que ninguém vos lê, ninguém vos procura. Essa é que é a verdade !
     Da outra fila ouviu-se uma réplica, numa melancólica voz de baixo :
     - Se vocês os comprassem, sempre os leríamos.
     Perguntei à bibliotecária :
     - Vocês aconselham os livros aos leitores ? Explicam-lhes a necessidade da leitura, imprimem-lhes o primeiro impulso de amor pelos livros ?
     Com dignidade, mas aparentemente ofendida, a bibliotecária retorquiu :
     - Certamente que não.  Cada um escolhe livremente o livro que deseja.

     Penso que não temos qualquer necessidade de bibliotecárias deste tipo, que se limitam a registrar passivamente os livros que entram e saem.  


     Conheci uma bibliotecária... Trabalhava com o segundo turno.  Os estudantes recusavam-se a ler as minhas poesias.  A bibliotecária preparou então, com alguns dos meus poemas, uma montagem literária  sobre a Revolução de Outubro e forçou alguns jovens a decorar os versos para em seguida os declamarem. 
     Depois de os terem estudado, os jovens começaram a lê-los com prazer. E a partir de então rejeitaram as poesias mais elementares. 
     - A leitura de obras mais complexas - disse a bibliotecária - não só lhes proporcionou prazer como lhes elevou o seu grau de cultura." 



___________________________________________________
Transcrito do livro POÉTICA (4a. edição),
de Vladimir Maiakovski 
- Tradução de Antonio Landeira e Maria Manuela Ferreira
- Global Editora, São Paulo, SP, 1984

quinta-feira, 2 de maio de 2013

ARTE POÉTICA, de Mauro Mota






Elabora o poema como
a fruta elabora os gomos,
a fruta elabora o suco,
a fruta elabora a casca,
elabora a cor e sobre-
tudo elabora a semente.     





________________________________________
Transcrito da antologia MAURO MOTA : 
100 POEMAS ESCOLHIDOS, 
Organização de Luzilá Gonçalves Ferreira
 - Companhia Editora de Pernambuco - CEPE /
Secretaria da Casa Civil /
Governo de Pernambuco, Recife, PE, 2011.



sábado, 23 de março de 2013

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE : "APENAS DUAS MÃOS E O SENTIMENTO DO MUNDO"





"A Poesia é a arte que coordena as ideias e as palavras de modo a expressar o pensar e o sentir de forma bela. Fala ao coração. É o belo em forma de Linguagem.  Mas a divisão da sociedade em classes, a violência gerada pela exploração da minoria opressora, violam também a arte em todas as suas formas. Em vez de terna, a poesia se torna dura, embora não deixe de ser bela. É que o poeta tem "apenas duas mãos e o sentimento do mundo."  ( CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)

sábado, 9 de março de 2013

MÁRCIA MARACAJÁ E SEU BLOG





"A poesia me protege.
A poesia é minha oração.
É meu Deus vivo."


.................................................



"Há coisas que só a poesia dá conta."


.................................................



"Abro mão de amores.
Dou espaço para a poesia..."



MÁRCIA MARACAJÁ
(http://marciamaracaja.blogspot.com.br)

 

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

AMÉLIA DALOMBA : "Em toda a parte e em lugar nenhum"





Madrugada poisada na noite
Trevas e luz
Poesia 
Em toda a parte e em lugar nenhum
Poesia
Bússola nos olhos dos lábios 
Poesia 
Velho a contar as estrelas 
Poesia 
Santa imaginada nas nuvens 
Poesia 
Chuva canção no telhado 
Poesia 
Tela
Retrato 
Forma na fúria do punhal 
Poesia 
Pau e pilão
Poesia 
A melodia e a letra 
Poesia 
Punho e mão aberta 
Poesia 
Poesia
Em toda a parte e em lugar nenhum  




(Do livro NOITES DITAS À CHUVA
- Luanda, Angola, 2005)




________________________________________
Transcrito da Revista ENCONTRO 
- Gabinete Português de Leitura de Pernambuco, 
Recife, PE, Ano 22, No. 19, 2005)  

domingo, 13 de janeiro de 2013

Juareiz Correya : "Arte, Poeta"






"Se o poema não serve...
que o poeta então se cale !"
         (do poema Arte Poética,
           de Antonio Ramos Rosa)




Não se cale, poeta, não se cale !
O poema serve para dar nome a tudo
e tudo ficará silenciado
e inominável e morto se você se cala.
Quando os seus versos se anunciam 
multiplica-se a luz do dia 
e se anima o que todos querem e precisam. 
Assim os homens sabem que tudo pode ser dito
porque você não se cala, poeta. 
O poema serve 
para que os amigos e as amigas 
sintam que a a vida é um começo sem fim 
e enraizados na terra 
tenham no seu calor tropical
a correspondência da natureza humana. 
O poema só não serve 
para canalhas e imbecis e inocentes 
e corações sem desejos e sem assombros. 
Imemorial e inesquecível 
é a voz do poeta que não se cala. 
NÃO SE CALE, POETA,
E FALARÁ SEMPRE A HUMANIDADE !



(Santo Amaro,  Recife,
12 / janeiro / 2013)