quinta-feira, 19 de maio de 2011

PROFANO, QUASE PROFETA - Natanael Lima Jr.





profano
insano
marginal
hominal
visceral
atemporal
cômico
crônico
acrônico
anacrônico
poeta
profeta  




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NATANAEL LIMA JR. é membro da ACL
- Academia Cabense de Letras (Cabo, PE) /
Poema transcrito do BLOG DE ANTONINO
(http://antoninojr.blogspot.com/)

sábado, 23 de abril de 2011

"NEGO-ME A MASTIGAR TEORIAS" / Pablo Neruda




     "Tenho já 53 anos e nunca soube o que é a poesia, nem como definir o que não conheço.  Tampouco pude aconselhar alguém sobre esta substância obscura e ao mesmo tempo deslumbrante."



(do livro ´PARA NASCER NASCI, memórias)

terça-feira, 19 de abril de 2011

POETA, EXEMPLAR DO SER HUMANO / Gerardo Melo Mourão




     "O Poeta, justamente o habitante estrangeiro  do planeta em que vivemos, é o único que pode ser eleito, em todos os tempos, como exemplar do ser humano,  para o episódio proposto por Ortega y Gasset ("Qual seria o representante típico e exemplar do nosso planeta ?" )  Porque, não sendo escravo de tempo algum, ele é o senhor de todos os tempos."    



                                                                                             ("Folha de S. Paulo", São Paulo, SP, 1978)

sábado, 2 de abril de 2011

O PRIMEIRO DEGRAU, de Konstantinos Kaváfis




Foi a Teócrito queixar-se um dia
Eumene, poeta ainda muito jovem :
"Faz dois anos que escrevo e até agora
compus apenas um idílio.
Esse, o meu único trabalho pronto.
Pobre de mim ! Pelo que vejo, é alta,
deveras alta, a escada da Poesia. 
Estou no primeiro degrau : jamais,
infeliz que sou,  chegarei ao topo."
"Essas palavras, respondeu Teócrito,
"são um despropósito, blasfêmias.
Se estás no primeiro degrau, cumpria
te sentires feliz e envaidecido.
Chegar onde chegaste não é pouco,
nem é pequena  glória o que fizeste.
Do primeiro degrau, da mesma escada,
está bem distante o comum das pessoas.
Para pisar esse degrau de ingresso,
necessário é que sejas, por direito,
cidadão da cidade das idéias -
um título difícil : raramente
 fazem-se ali naturalizações.
De quantos na sua ágora legislam,
aventureiro algum pode zombar.
Chegar onde chegaste não é pouco,
nem é pequena glória o que fizeste."


(Tradução de JOSÉ PAULO PAES)

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Transcrito do livro POESIA MODERNA
DA GRÉCIA - Seleção, tradução direta do grego,
prefácio,  textos críticos e notas de José Paulo Paes -
Editora Guanaraba, Rio de Janeiro, RJ, 1986.

domingo, 20 de março de 2011

PARÁBOLA & LIBERTAÇÃO / Maria de Lourdes Hortas




PARÁBOLA 


Perdoai, Senhor, mas um poeta
é também pastor apascentando
sedentos de beleza em campos largos.   


Sabe o poeta onde estão a relva e os regatos :
isto, Senhor, o faz também profeta ?


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LIBERTAÇÃO


Eis a minha poesia :
ressuscitar o que me foi dado
e desdobrá-lo para novo olhar.       



(do livro RELÓGIO D'ÁGUA,
 Recife, PE, 1985)





sexta-feira, 4 de março de 2011

POESIA É :




Ver na queimada
o verde milharal.
Na pedra muda,
outras vozes dos Ventos ressoando.


Na luta infinda do viver
inda querer
os rebates do Amor.    


Na ante-Morte do sono descobrir
os dons da Vida formatando sonhos.   
Em madrugadas entrever poentes
e na escuridão o meio dia. 


Que vendo, pressentindo e descobrindo
o que ninguém talvez  perceberia
faz-se o Poema, pois a Poesia
nada mais é do que ter na semente
a flor, e até na Dor, Vida, somente.   



OLÍMPIO BONALD NETO

(Olinda, 6a.-Feira da Paixão, 2004)


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Transcrito do livro VIDA E POESIA,
de Olímpio Bonald Neto
- Edições Bagaço, Recife, 2010

domingo, 20 de fevereiro de 2011

O POEMA É UMA FLOR QUE NÃO MORRE : FERREIRA GULLAR E O SEU "POEMA SUJO"




    " Sentia necessidade de dizer tudo o que eu podia dizer, pois pensava que podia morrer naquela época. Foi nesse estado de espírito de não ter para onde correr que nasceu o poema. Na verdade o poema não é político, mas um resgate do que eu havia vivido até então. É claro que tem a minha infância, tem São Luís... O poema vai resgatar toda a minha experiência de vida, na medida do possível, mas ele é na realidade reflexão sobre aquelas coisas. Não é simplesmente ai que saudade que eu tenho da aurora da minha vida...  É uma reinvenção da própria vida.  Uma coisa é você ter vivido e outra coisa é você refletir sobre o que você viveu.   

     Eu fiquei de maio a outubro escrevendo esse poema. Para você passar meio ano escrevendo um poema é preciso que você esteja tomado realmente por alguma coisa.  Isso nunca havia me acontecido antes. Não ficava um dia inteiro ligado a um poema, imagine então meses ?  Eu não fazia outra coisa.  Morava sozinho, saía para fazer compras e o poema estava na minha cabeça.  Eu tinha 45 anos.  Quando chegou um determinado momento esse estado poético, vamos dizer assim, cessou.  Eu sabia que o poema não estava concluído, mas eu não estava mais no estado que me fez escrever o poema. Então pensei : tenho que terminar.  E então já conscientemente, não mais naquele estado de transe, tentei uma, duas soluções.  Não gostei.  Foi quando me ocorreu uma lembrança - essas coisas não são explicáveis.  Um belo dia, me veio uma frase do Hegel citado por Lênin  num livro de  filosofia  que eu estava lendo em Santiago do Chile : "No ramo da árvore estão o universal e o particular."  Me lembro de ter lido isso e pensado :  como é que pode ? Quando esse raciocício me veio, já em Buenos Aires, descobri o final do poema.  Agora por quê ?  Não sei.  Tanto que o final do poema, se você observar, é bem diferente do resto do poema.  Ele não tem o mesmo tom.  Porque é o resultado de uma reflexão de outra natureza.  É uma conclusão mesmo, quase racional, do poema.  Essa idéia de que uma coisa está em outra coisa..."



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(Da entrevista concedida a João Barile e publicada na Revista BRAVO!
- Outubro, 2010 - Editora Abril, São Paulo, SP)