"Aprendi que as palavras têm cheiro, gosto, cor. Há todo um mundo escondido nelas. É preciso chegar a esse mundo silencioso.
Quando é poesia, não existe hermetismo, a não ser aquela névoa que cobre, levemente, a terra. Herméticas são as pessoas, não os poemas. Sobretudo, as que chamam "herméticos" os poemas, tentando afastar o possível leitor.
Devemos nos aproximar mais do poema, lendo-o, aceitando-o, ser vivo, inteiro, com mãos, braços. Às vezes um pouco magro, outras, gordo, alto ou baixo. A vida salta adiante. Contrapõe-se, desafia. Muitas vezes não se pode caçá-la, borboleta.
Um poema lido em voz alta - e há uma tradição fonética na poesia do Rio Grande - pode tomar compreensão que parece não ter no seu silêncio sobre a página.
Embora o poema também se alimente de silêncio. Como as ervas se nutrem, densamente, de orvalho."
CARLOS NEJAR
(do livro A CHAMA É UM FOGO ÚMIDO,
~Coleção Afrânio Peixoto/
Academia Brasileira de Letras, Rio, 1994)
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
sábado, 6 de novembro de 2010
"Poesia é o reino de uma razão que está além da razão" / Lêdo Ivo
"Na história da poesia, as invenções que surgem ao dia claro nem sempre ostentam ou apregoam as suas longas gestações, apresentando-se habitualmente como frutos surpreendentes dos instantes e temperamentos. Tais descobertas quase sempre restauram e retomam técnicas abandonadas e antigas proscrições, sustentando o movimento pendular da poesia, sempre oscilante entre o rigor e o excesso. Mas no largo território onde as epigonias surgem desenvoltas como cogumelos ou estações repetidoras, as famílias espirituais estão longe de exibir suas cartas nítidas de procedência. Corre-lhes nas veias um sangue misturado e confundido, e sempre será difícil para a crítica mais atilada ou ambiciosa discernir entre o construtivismo mais acirrado e o mais escancarado movimento de libertação do poeta que, sacudindo o jugo das injunções escolares ou geracionais, abre ou, de repente, encontra abertas as portas do seu cativeiro, e avança soberanamente com a sua exaltação pessoal.
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(...) o reino da poesia é o reino de uma razão que está além da razão : no domínio privilegiado da imaginação acesa e iluminadora."
LÊDO IVO
(Apresentação de "Fogo Úmido",
de Carlos Nejar - ABL, Rio de Janeiro, 1994)
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(...) o reino da poesia é o reino de uma razão que está além da razão : no domínio privilegiado da imaginação acesa e iluminadora."
LÊDO IVO
(Apresentação de "Fogo Úmido",
de Carlos Nejar - ABL, Rio de Janeiro, 1994)
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
A PALAVRA MAIS HUMANA
O poema se inscreve em mim
como os filhos que se criam em cada criatura.
Materializo essa matéria aérea
concretizo palavra por palavra
o desenho mágico do seu alfabeto incomum
a construção erguida do Nada
e que hoje não é Coisa Inexistência Morte
- hoje é a palava mais humana da Existência da Vida
Recife, Santo Amaro,
21/outubro/2010.
como os filhos que se criam em cada criatura.
Materializo essa matéria aérea
concretizo palavra por palavra
o desenho mágico do seu alfabeto incomum
a construção erguida do Nada
e que hoje não é Coisa Inexistência Morte
- hoje é a palava mais humana da Existência da Vida
Recife, Santo Amaro,
21/outubro/2010.
domingo, 17 de outubro de 2010
O MELHOR CONSELHO QUE SE PODE DAR A UM JOVEM POETA - T. S. Eliot
"É tremendamente perigoso dar conselho geral. Acho que o melhor conselho que se pode dar a um jovem poeta é criticar um detalhe de determinado poema. Argumentar com ele, se necessário; dar-lhe nossa opinião, se houver quaisquer generalizações a serem feitas, e deixar que ele próprio o faça. Tenho verificado que pessoas diversas têm maneiras diferentes de trabalhar e que as coisas lhes chegam de modo diferente. Nunca se tem a certeza de estar-se proferindo uma enunciação que seja geralmente válida para todos os poetas, ou quando se trata de algo que só se aplica à gente. Penso que nada é pior que a gente procurar formar alguém à nossa própria imagem."
(Entrevista de T.S. Eliot a "Paris Review",
incluída no livro ESCRITORES EM AÇÃO,
Paz e Terra, São Paulo, SP, 1968)
(Entrevista de T.S. Eliot a "Paris Review",
incluída no livro ESCRITORES EM AÇÃO,
Paz e Terra, São Paulo, SP, 1968)
domingo, 10 de outubro de 2010
O POEMA, de Geraldino Brasil
O poema não deve ser um conjunto de palavras como esta
dando uma definição dicionária
Nem oferecendo uma indefinição.
Deve ser melhor
do que bom apenas
e não se acabar como o sorvete
que se tomou sem a namorada.
As palavras procuradas pelo seu poeta
não serão daquelas que o leitor
tenha de consultar o dicionário
ou, pelas outras do poema,
o deixam desinteressado do trabalho.
O poema deve menos falar e mais dizer.
Pode ter de gritar
a quem tem ouvidos moucos.
Pode falar a quem sabe
ouvir silêncios de uma pessoa que conversa.
(do livro A INTOCÁVEL BELEZA DO FOGO)
dando uma definição dicionária
Nem oferecendo uma indefinição.
Deve ser melhor
do que bom apenas
e não se acabar como o sorvete
que se tomou sem a namorada.
As palavras procuradas pelo seu poeta
não serão daquelas que o leitor
tenha de consultar o dicionário
ou, pelas outras do poema,
o deixam desinteressado do trabalho.
O poema deve menos falar e mais dizer.
Pode ter de gritar
a quem tem ouvidos moucos.
Pode falar a quem sabe
ouvir silêncios de uma pessoa que conversa.
(do livro A INTOCÁVEL BELEZA DO FOGO)
sábado, 25 de setembro de 2010
ARTE POÉTICA, de Vicente Huidobro
Que o verso seja como chave
que abre mil portas.
Uma folha cai, algo passa voando;
quando os olhos fitam criado seja,
e a alma do ouvinte fique palpitando.
Inventa novos mundos, cuida da palavra;
o adjetivo quando não dá vida, mata.
Estamos no céu dos nervos.
O músculo pende,
como recordação, nos museus;
mas nem por isso temos menos força :
o vigor verdadeiro
reside na cabeça.
Por que cantais a rosa, poetas ?
fazei-a florir no poema.
Só para nós
vivem sob o sol as coisas todas.
O poeta é um pequeno Deus.
(Chile, 1893 - 1948)
_____________________________________________
Transcrito da antologia POESIA DO SÉCULO XX,
organização e tradução de Jorge de Sena
- Editorial Inova, Porto, Portugal, 1975
que abre mil portas.
Uma folha cai, algo passa voando;
quando os olhos fitam criado seja,
e a alma do ouvinte fique palpitando.
Inventa novos mundos, cuida da palavra;
o adjetivo quando não dá vida, mata.
Estamos no céu dos nervos.
O músculo pende,
como recordação, nos museus;
mas nem por isso temos menos força :
o vigor verdadeiro
reside na cabeça.
Por que cantais a rosa, poetas ?
fazei-a florir no poema.
Só para nós
vivem sob o sol as coisas todas.
O poeta é um pequeno Deus.
(Chile, 1893 - 1948)
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Transcrito da antologia POESIA DO SÉCULO XX,
organização e tradução de Jorge de Sena
- Editorial Inova, Porto, Portugal, 1975
sábado, 18 de setembro de 2010
FERREIRA GULLAR : "Toda essa matéria de verdade e de sonho que há dentro das pessoas é que é a coisa mais importante da poesia"
"A gente vai escrevendo. Escreve um poema hoje, um poema amanhã. Embora tudo isso tenha uma unidade, porque é uma mesma pessoa que faz, há sempre um caráter fragmentário. Acho que todo poeta tem a necessidade de um dia fazer aquela obra que é a síntese de tudo o que ele pensou e viveu. Eu pelo menos sentia que o que eu tinha dito estava dito parcialmente em uma quantidade de poemas, mas a soma desses elementos não dava a totalidade do que eu queria. Os poemas escritos já eram parte da minha própria vida e o que estava neles era, de certo modo, o passado, também. Eu, portanto, teria que encontrar uma expressão que fosse capaz de exprimir não só o que eu sentia ao escrevê-los, mas também o resto da vida que estava fora deles.
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Eu acho que se a poesia tem alguma importância, a importância dela é estabelecer a comunicação entre as pessoas num nível afetivo. O poeta modifica a linguagem, subverte a linguagem, como consequência da necessidade de exprimir o que ele quer exprimir. O objetivo não é subverter a linguagem. Isso é uma consequência. O objetivo é se comunicar com as pessoas. E dentro desse comunicar com as pessoas há um mundo de coisas... Ele quer exaltar a vida, às vezes. Ele quer protestar, quer denunciar, quer comunicar a beleza que ele descobriu numa relação com outra pessoa ou na manhã ou na tarde. Ele quer futucar o mistério da existência. Toda essa matéria de verdade e de sonho que há dentro das pessoas é que é a coisa mais importante da poesia. Quando não tem isso não há poesia e é melhor ir à praia."
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(do livro CADERNO DE CONFISSÕES BRASILEIRAS
- entrevistas a Geneton Moraes Neto -,
Editora Comunicarte, Recife, 1982).
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Eu acho que se a poesia tem alguma importância, a importância dela é estabelecer a comunicação entre as pessoas num nível afetivo. O poeta modifica a linguagem, subverte a linguagem, como consequência da necessidade de exprimir o que ele quer exprimir. O objetivo não é subverter a linguagem. Isso é uma consequência. O objetivo é se comunicar com as pessoas. E dentro desse comunicar com as pessoas há um mundo de coisas... Ele quer exaltar a vida, às vezes. Ele quer protestar, quer denunciar, quer comunicar a beleza que ele descobriu numa relação com outra pessoa ou na manhã ou na tarde. Ele quer futucar o mistério da existência. Toda essa matéria de verdade e de sonho que há dentro das pessoas é que é a coisa mais importante da poesia. Quando não tem isso não há poesia e é melhor ir à praia."
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(do livro CADERNO DE CONFISSÕES BRASILEIRAS
- entrevistas a Geneton Moraes Neto -,
Editora Comunicarte, Recife, 1982).
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