JORNAL DO COMMERCIO /
Caderno C (Recife, PE -
25 de Outubro de 1998)
UM POETA É A SUA POESIA
À memória do poeta
José Paulo Paes
Conhecer um poeta, quem sabe
um dia alguém conhecerá ?
Parentes e aderentes, em casa,
a alguns metros na rua, noutros lugares do mapa,
lembram o seu nome ?
Próximos e amigos, por caminhos
diários, memórias, planos futuros,
estão ao seu lado quando ele se anuncia ?
Mulheres, companheiras, parceiras da alegria
ou da parte triste do coração,
terão qualquer discernimento ou sabedoria
quando o poeta fala chora ri soluça
canta explode ?
ou quando o poeta silencia ?
Dão importância a qualquer palavra
que o poeta escreve ou escreverá um dia ?
Críticos e esgrimistas cínicos e céticos -
plantados nas esquinas, chocando nos bares,
mercadejando nas redações de jornais, rádios e TVs,
ou piruetando nos salões e festas vazias,
os críticos sabem o que é o poeta e a sua poesia ?
Sabem que a palavra é arrancada da alma,
que há uma hemorragia em cada verso ?
Nenhum crítico é capaz de descobrir a dor
- a inconcluída dor humana -
que impõe ao poeta a confissão medonha
intransferível e única
que ninguém vê nem sente.
Sabem todos o que é o inferno por dentro
do mesmo corpo trespassado de fogo e luz ?
As danações misérias sortes iluminações e desertos
torturando e animando cada passo gesto
toque risco pétala suspiro e frêmito e grito
que condenam o poeta ao seu poema ?
Ah! se soubessem que o poeta
não é melhor nem maior do que ninguém
- é só um homem com a capacidade de fazer versos -
mas que ele é o melhor e o maior de todos os homens
com a humanidade do seu coração em tudo o que escreve.
Nenhum comentário:
Postar um comentário