Jorge Luís Borges,
poeta, contista, tradutor,
crítico literário e ensaísta argentino
(1899 - 1986)
"Passamos à poesia; passamos à vida. E a vida, tenho certeza, é feita de poesia. A poesia não é alheia - a poesia, como veremos, está logo ali, à espreita. Pode saltar sobre nós a qualquer instante. Ora, tendemos a fazer uma confusão corriqueira. Pensamos, por exemplo, que se estudarmos Homero, ou a Divina Comédia, ou Frei Luís de León, ou Macbeth, estaremos estudando poesia. Mas os livros são somente ocasiões para a poesia. Creio que Emerson escreveu em algum lugar que uma biblioteca é um tipo de caverna mágica cheia de mortos. E aqueles mortos podem ser ressuscitados, podem ser trazidos de volta à vida quando se abrem as suas páginas. Falando sobre o bispo Berkeley
(que, permitam-me lembrar, foi um profeta da grandeza dos Estados Unidos), lembro que ele escreveu que o gosto da maçã não estava nem na própria maçã - a maçã não pode ter gosto por si mesma - nem na boca de quem come. É preciso um contato entre elas. O mesmo acontece com um livro ou uma coleção deles, uma biblioteca. Pois o que é um livro em si mesmo ? Um livro é um objeto físico num mundo de objetos físicos. É um conjunto de símbolos mortos. E então aparece o leitor certo, e as palavras - ou, antes, a poesia por trás das palavras, pois as próprias palavras são meros símbolos - saltam para a vida, e temos uma ressurreição da palavra."
(Trecho de O Enigma da Poesia /
Reprodução do blog de Luiz Alberto Machado
- http://blogdotataritaritata.blogspot.com.br )
(Trecho de O Enigma da Poesia /
Reprodução do blog de Luiz Alberto Machado
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