SEBASTIÃO VILA NOVA
(Sociólogo da Fundação Joaquim Nabuco
e professor da UNICAP, do Recife - PE)
(...) Afinal, esse negócio de fazer poesia, como se entende comumente a poesia, é uma temeridade, uma loucura. É coisa para abalar a reputação de qualquer um. Antes de mais nada, porque fazer poesia é subverter uma das coisas mais caras ao homem, o seu instrumento básico de comunicação: a linguagem verbal. Por isso é que a poesia, a partir do fato de que ela se baseia na subversão do sentido cotidiano das palavras, é uma atividade não só marginal, mas antissocial. Por isso, também, é que quem se mete com esse negócio de andar fazendo e principalmente publicando poesia deve ter a consciência do estigma que a sociedade reserva a esse tipo de transgressor. A maioria das pessoas, os homens "sérios" e práticos, os sensatos, os virtuosos de domingo costumam olhar, no mínimo com tolerância, quando não com desdém, para quem perde seu tempo com essa "coisa inútil". Quem não sabe o que é que se quer dizer quando se afirma, em geral com algum desprezo mal disfarçado em condescendência, que "fulano é um poeta" ?
(...) Mas acontece que a poesia, toda poesia, guarda a mesma atenção, a mesma valorização dos sentimentos como é própria da juventude. A poesia, afinal, guarda a mesma valorização do sonho como uma possibilidade concretizável.
Mas, para o "filisteu", toda arte, e não só a poesia, é apenas uma coisa tolerável. Como também quem a faz. Ele é incapaz de compreender o quanto poesia e poeta jamais serão demais no mundo. Porque, como dizia Elliot, apreendendo ou atribuindo novos matizes de significado às palavras, o poeta concorre para o refinamento da sensibilidade dos homens e, portanto, para o aperfeiçoamento do convívio, para a civilização. E por isso é que a poesia, acho que Elliot tinha razão, tem uma função social.
(Crônica publicada no DIARIO DE PERNAMBUCO,
5 de janeiro de 1984 / Transcrita do livro A VOLTA DO CIGANO
- Crônicas, artigos e entrevistas literárias de Sebastião Vila Nova -
Fundação Joaquim Nabuco / Editora Massangana, Recife, PE, 2016)
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SEBASTIÃO VILA NOVA, alagoano de nascimento (1944).
Poeta, cronista, sociólogo, professor,
publicou, entre outros, estes livros : INTRODUÇÃO À
SOCIOLOGIA, SOCIOLOGIAS E PÓS-SOCIOLOGIAS
EM GILBERTO FREYRE; e DONALD PIERSON E
A ESCOLA DE CHICAGO NA SOCIOLOGIA BRASILEIRA:
ENTRE HUMANISTAS E MESSIÂNICOS.
Em 2002, recebeu o título de "Cidadão Pernambucano",
concedido pela Assembléia Legislativa do Estado.
Faleceu, no Recife, no início deste ano de 2018.
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