YEVTUSHENKO
(Rússia, 1932 -
Estados Unidos, 2017)
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"A autobiografia de um poeta são seus próprios poemas. O resto é suplementar.
O poeta tem o dever de se apresentar aos leitores com seus sentimentos, atos e pensamentos, de coração aberto.
Para ter o privilégio de exprimir a verdade dos outros, ele deve pagar um preço: entregar-se, impiedosamente, à sua verdade.
Enganar lhe é vedado. Se desdobrar a sua personalidade - de um lado, o homem real e, do outro, o homem que se expressa - se tornará estéril. É inevitável.
Quando Rimbaud tornou-se traficante de negros, agindo contra os seus ideais poéticos, deixou de escrever. Foi a solução honesta.
Infelizmente, nem sempre é assim. Alguns se obstinam em escrever mesmo quando sua vida não coincide mais com a sua poesia. Abandonando-os, a poesia se vinga. Mulher rancorosa, ela não perdoa a mistificação, nem mesmo as meias-verdades.
Diante de um espelho, que os homens digam, não quantas vezes mentiram, mas, simplesmente, quantas vezes preferiram o conforto do silêncio.
Sei que eles têm um álibi, com certeza, inventado por seus similares : o silêncio é de ouro. A eles eu responderia : essa espécie de ouro não é pura. Esse silêncio é falso.
Isso é válido para todos os mortais, mas cem vezes mais ainda para os poetas, que devem expressar uma verdade concreta. Quando se começa por silenciar a sua própria verdade, acaba-se inevitavelmente por silenciar sobre as verdades, sofrimentos e infelicidades dos outros."
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Fragmento inicial do primeiro capítulo do livro
AUTOBIOGRAFIA PRECOCE, de Eugênio Evtuchenko
(Tradução de Yedda Boechat /
Editora Brasiliense, São Paulo, SP, 1a. edição, 1984)
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