"Aprendi que as palavras têm cheiro, gosto, cor. Há todo um mundo escondido nelas. É preciso chegar a esse mundo silencioso.
Quando é poesia, não existe hermetismo, a não ser aquela névoa que cobre, levemente, a terra. Herméticas são as pessoas, não os poemas. Sobretudo, as que chamam "herméticos" os poemas, tentando afastar o possível leitor.
Devemos nos aproximar mais do poema, lendo-o, aceitando-o, ser vivo, inteiro, com mãos, braços. Às vezes um pouco magro, outras, gordo, alto ou baixo. A vida salta adiante. Contrapõe-se, desafia. Muitas vezes não se pode caçá-la, borboleta.
Um poema lido em voz alta - e há uma tradição fonética na poesia do Rio Grande - pode tomar compreensão que parece não ter no seu silêncio sobre a página.
Embora o poema também se alimente de silêncio. Como as ervas se nutrem, densamente, de orvalho."
CARLOS NEJAR
(do livro A CHAMA É UM FOGO ÚMIDO,
~Coleção Afrânio Peixoto/
Academia Brasileira de Letras, Rio, 1994)
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