"A gente vai escrevendo. Escreve um poema hoje, um poema amanhã. Embora tudo isso tenha uma unidade, porque é uma mesma pessoa que faz, há sempre um caráter fragmentário. Acho que todo poeta tem a necessidade de um dia fazer aquela obra que é a síntese de tudo o que ele pensou e viveu. Eu pelo menos sentia que o que eu tinha dito estava dito parcialmente em uma quantidade de poemas, mas a soma desses elementos não dava a totalidade do que eu queria. Os poemas escritos já eram parte da minha própria vida e o que estava neles era, de certo modo, o passado, também. Eu, portanto, teria que encontrar uma expressão que fosse capaz de exprimir não só o que eu sentia ao escrevê-los, mas também o resto da vida que estava fora deles.
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Eu acho que se a poesia tem alguma importância, a importância dela é estabelecer a comunicação entre as pessoas num nível afetivo. O poeta modifica a linguagem, subverte a linguagem, como consequência da necessidade de exprimir o que ele quer exprimir. O objetivo não é subverter a linguagem. Isso é uma consequência. O objetivo é se comunicar com as pessoas. E dentro desse comunicar com as pessoas há um mundo de coisas... Ele quer exaltar a vida, às vezes. Ele quer protestar, quer denunciar, quer comunicar a beleza que ele descobriu numa relação com outra pessoa ou na manhã ou na tarde. Ele quer futucar o mistério da existência. Toda essa matéria de verdade e de sonho que há dentro das pessoas é que é a coisa mais importante da poesia. Quando não tem isso não há poesia e é melhor ir à praia."
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(do livro CADERNO DE CONFISSÕES BRASILEIRAS
- entrevistas a Geneton Moraes Neto -,
Editora Comunicarte, Recife, 1982).
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