"Houve um tempo em que eu lia muito poesia por gosto. Mas acontece o seguinte, eu leio na hora de dormir, quando eu me deito. Só leio nessa hora. Leio jornal durante o dia mas livro eu tenho vergonha de ler durante o dia, ir no escritório botar um livro e ler assim sentado. Eu não sinto isso como natural. Eu me deito e leio, o que quer que eu leia é nessa hora... Eu fico muito tempo lendo, porque eu demoro muito pra dormir, e a poesia não dá sono. Poesia tira o sono, poesia é um negócio que não ajuda a dormir. A prosa não, toda prosa mesmo, qualquer coisa, "Guerra e Paz", qualquer livro, você lê, se interessa, mas a narração combina com você ir se acalmando... você vai continuar no dia seguinte, a história tem um fio.
Poesia não. Poesia às vezes é um negocinho, um livro pequenininho, com umas poucas palavras em cada página, é uma coisa tão densa que lhe põe numa situação difícil... É curioso, você pode, fisicamente, ler um livro de poesia, às vezes muito denso, em 15 minutos, em 10 minutos, né ?
Se uma pessoa diz assim, vou ler "Mensagem", do Fernando Pessoa, todo, como quem lê um romance... Os poemas são pequenos, não são muitos, e o livro é pequeno. Você lê aquilo rápido. Mas é difícil que você realmente tenha lido aquele livro, porque são tantos romances que se passam às vezes entre duas palavras só."
(Caderno MAIS!, Folha de São Paulo,
9 de agosto de 1992).
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