DEOLINDO TAVARES
(Nascido no Recife, em dezembro/1918,
faleceu no Rio de Janeiro, RJ,
aos 24 anos de idade)
O POETA
Sou mais pobre do que Job.
Sou mais rico do que Salomão.
Sou um poeta. Sou o maior de todos os descobridores.
Sem navio, sem bússola e sem leme,
descubro istmos e estradas.
Posso ser amado e odiado, condenado e insultado,
sem odiar, sem condenar, sem insultar.
Sei tão somente amar e perdoar.
Não tenho castelos, nem rosas, nem amores,
mas, em misterioso sonho,
ora passeio no carro de Salomão,
ora durmo sobre as cinzas de Job.
Alimento-me de céu, de flores e da beleza eterna
das paisagens de Deus;
adormeço num som,
desperto numa cor,
morro afogado no mar de uma inesperada estrela.
Para mim não há, nem ontem, nem amanhã, nem depois,
vida e morte, alegria nem dor.
Para mim o dia é uma eternidade.
A eternidade o menor tempo;
para mim o tempo não existe,
pois rasguei todos os calendários do mundo.
Um dia, tendo as mãos límpidas, a alma serena
e pureza em meu coração,
caminharei em firmes passos para o céu de Cristo ou de Maomé.
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Transcrito do livro POESIAS, de Deolindo Tavares
- Governo do Estado de Pernambuco / Secretaria de Turismo,
Cultura e Esportes / FUNDARPE /
CEPE - Companhia Editora de Pernambuco
( Recife, PE, 3a. edição, 1988)
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