OS OPERÁRIOS E OS CAMPONESES NÃO VOS COMPREENDEM
"(...)
Uma bibliotecária, lá do fundo do seu lugar, gritou, satisfeita, dando vazão ao seu ódio contra a nossa literatura :
- Ah, ah! O que é certo é que ninguém vos lê, ninguém vos procura. Essa é que é a verdade !
Da outra fila ouviu-se uma réplica, numa melancólica voz de baixo :
- Se vocês os comprassem, sempre os leríamos.
Perguntei à bibliotecária :
- Vocês aconselham os livros aos leitores ? Explicam-lhes a necessidade da leitura, imprimem-lhes o primeiro impulso de amor pelos livros ?
Com dignidade, mas aparentemente ofendida, a bibliotecária retorquiu :
- Certamente que não. Cada um escolhe livremente o livro que deseja.
Penso que não temos qualquer necessidade de bibliotecárias deste tipo, que se limitam a registrar passivamente os livros que entram e saem.
Conheci uma bibliotecária... Trabalhava com o segundo turno. Os estudantes recusavam-se a ler as minhas poesias. A bibliotecária preparou então, com alguns dos meus poemas, uma montagem literária sobre a Revolução de Outubro e forçou alguns jovens a decorar os versos para em seguida os declamarem.
Depois de os terem estudado, os jovens começaram a lê-los com prazer. E a partir de então rejeitaram as poesias mais elementares.
- A leitura de obras mais complexas - disse a bibliotecária - não só lhes proporcionou prazer como lhes elevou o seu grau de cultura."
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Transcrito do livro POÉTICA (4a. edição),
de Vladimir Maiakovski
- Tradução de Antonio Landeira e Maria Manuela Ferreira
- Global Editora, São Paulo, SP, 1984
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