PABLO NERUDA (Chile, 1904 - 1973)
- Prêmio Nobel de Literatura de 1971
QUE ACORDE O LENHADOR
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Aqui eu me despeço, volto
para a casa, em meus sonhos,
volto para a Patagônia onde
o vento bate nos estábulos
e respinga e gela o Oceano.
Não sou mais que um poeta: amo todos vós,
ando errante pelo mundo que amo :
em minha pátria encarceram mineiros
e os soldados mandam nos juízes.
Porém eu amo até as raízes
de meu pequeno país frio.
Se tivesse que morrer mil vezes
lá quero morrer;
se tivesse de nascer mil vezes
lá quero nascer,
perto da araucária selvagem,
do vendaval do vento sul,
dos sinos recém-comprados.
Que ninguém pense em mim.
Pensemos na terra toda,
batendo com amor na mesa.
Não quero que volte o sangue
a empapar o pão, os feijões,
a música; quero que venha
comigo o mineiro, a menina,
o advogado, o marinheiro,
o fabricante de bonecas,
que entremos no cinema e saiamos
para beber o vinho mais rubro.
Não venho para resolver nada.
Vim aqui para cantar
e para que cantes comigo.
(Fragmento final do poema "Que Acorde o Lenhador", do livro CANTO GERAL, de Pablo Neruda, em tradução de Paulo Mendes Campos - DIFEL Difusão Editorial S.A., São Paulo - SP, 4a. edição, 1981)
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PABLO NERUDA (pseudônimo de Nefatli Ricardo Reys Basoalto) nasceu no dia 12 de julho de 1904 em Parral, Chile. Marxista e revolucionário, cantou as angústias da Espanha de 1936 e a condição dos povos latino-americanos e seus movimentos libertários. Diplomata desde cedo, foi cônsul na Espanha e no México. Desenvolve intensa vida política e publica, de 1921 a 1940, entre outras, as seguintes obras : "La canción de la fiesta", "Crepusculario", Veinte poemas de amor y una canción desesperada", "Tentativa del hombre infinito", "Residencia en la tierra" e "Oda a Stalingrado". Participa da campanha da Unidade Popular que elege Allende e é nomeado embaixador do Chile na França. Data de 1950 o seu grande livro "Canto General" (Canto Geral). Pablo Neruda morreu no dia 23 de setembro de 1973 em Santiago do Chile, oito dias após a queda do Governo da Unidade Popular e da morte do presidente Salvador Allende.
(Nota da DIFEL Difusão Editorial S.A)